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Amizade Colorida | Crítica

O amor enquanto flashmob

29.09.2011, às 19H20.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H24

As semelhanças entre Sexo sem Compromisso e Amizade Colorida (Friends With Benefits), as comédias românticas que Natalie Portman e Mila Kunis fizerem para tirar a ziquizira de Cisne Negro, não vão além da premissa.

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Enquanto o filme com Portman reforça e amplifica os machismos mais arraigados do gênero, o de Kunis está mais em sintonia com as mudanças de comportamento destes tempos de excesso de informação. Na verdade parece um milagre que um filme com tanto product placement - Amizade Colorida vende revistas, jogos, pacotes turísticos e estilo de vida com a voracidade de um 007 - resulte tão honesto.

Kunis interpreta Jamie, uma headhunter que convence o diretor de arte Dylan (Justin Timberlake)a trocar seu blog em Los Angeles por uma grande revista em Nova York. A relação de negócios vira amizade, que aos poucos torna-se algo mais. Como Jamie e Dylan já se desgastaram com namoros anteriores, decidem então ficar no sexo casual, sempre que a rotina incessante da capital do mundo permitir.

É imprescindível que um filme como Amizade Colorida se ambiente lá. Como ensinou o brasileiro Apenas o Fim, é uma combinação de repertórios que aproxima garotos e garotas, o afeto se dá no acúmulo de referências, e não há lugar melhor para viver um zeitgeist por dia do que Nova York. É o amor enquanto flashmob.

O diretor Will Gluck, do elogiado A Mentira, entende essa urgência, e acelera os diálogos já ligeiros entre Kunis e Timberlake, cheios de piadas sobre cultura pop e, claro, sobre as comédias românticas em geral. A boa química do casal lembra a guerra verbal de Cary Grant e Rosalind Russell em Jejum de Amor, e forçando um pouco não é difícil ver em Amizade Colorida alguns traços da clássica screwball comedy, especialmente a ideia da relação pessoal condicionada à profissional.

O que diferencia Amizade Colorida de outros filmes espertinhos que operam na chave metalinguagem/name-dropping é a reviravolta que acontece a partir da metade. Porque sexo sem compromisso e cultura descartável são muito bons, mas não enchem a barriga de ninguém. Se a Nova York do filme é tão perfeita, porque Dylan esperou tanto para sair de Los Angeles?

Sem incorrer em spoilers, digamos que a Big Apple oferece ao personagem não só uma experiência acaçapante, mas principalmente anestésica. A partir da citada reviravolta, a noção de consumo imediato (de sexo, de cultura, de coletividade) que está no centro de Amizade Colorida entra em choque com a questão da valorização da memória.

E sobre isso o filme tem uma ou duas coisas a dizer. Embora essa questão tenha contornos bem claros (Alzheimer, memória apagada por excessos de juventude) ela recai sobre Jamie e Dylan de forma sutil. Will Gluck - que assina o roteiro com Keith Merryman e David A. Newman - mostra que uma relação pode perfeitamente se construir com gostos e gestos que se encerram em si mesmos, mas é o acúmulo desses gostos e gestos que a faz durar. O consumo descartável não é tão descartável assim, afinal.

Amizade Colorida | Assista a quatro cenas
Amizade Colorida | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo
Amizade Colorida
Friends with Benefits
Amizade Colorida
Friends with Benefits

Ano: 2011

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 109 min

Direção: Will Gluck

Roteiro: Will Gluck

Elenco: Justin Timberlake, Mila Kunis, Patricia Clarkson, Woody Harrelson, Nolan Gould, Shaun White, Jenna Elfman, Bryan Greenberg, Richard Jenkins, Masi Oka, Andy Samberg, Emma Stone, Tiya Sircar, Catherine Reitman

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