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Crítica

Anjos da Morte | Crítica

Eduardo Spohr faz uma fantasia adulta situada em tempos de guerra

06.06.2013, às 00H29.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H24

Anjos da Morte é a primeira fantasia genuinamente adulta escrita por Eduardo Spohr. Em seu terceiro livro, o autor carioca deixa de lado a aventura juvenil de Herdeiros de Atlântida e a grandiloquência de A Batalha do Apocalipse para focar nas reações humanas frente à guerra. Pelo olhar de anjos e demônios, o livro mostra nossos defeitos corriqueiros e virtudes imperceptíveis sem soar moralista ou deixar de responder importantes questões da saga Filhos do Éden.

Como boa parte das segundas etapas de trilogias consagradas, Anjos da Morte retrata um momento mais sombrio e íntimo da história. Neste caso, o personagem que dá o tom ao livro é Denyel, um anjo renegado a serviços terrenos de pouca relevância, que ganhou importância no final de Herdeiros de Atlântida. Spohr apresenta o passado do personagem sob o contexto de confrontos históricos como a Segunda Guerra Mundial, Vietnã e União Soviética.

Leia a entrevista que fizemos com Eduardo Spohr

Por meio das batalhas, é possível acompanhar soldados humanos e celestiais frente à situações que, em conceito, se assemelham a dilemas cotidianos. Preservar seus princípios, seguir ordens à risca, confiar no seu talento e diversas outras metáforas são usadas por Spohr com alta frequência, sempre tendo como pano de fundo alguma ocasião de risco. Ocasiões estas usadas com certo exagero - aqui e ali sequências de perigo se repetem e dão impressão de serem simples muletas narrativas, sem intuito concreto de acrescentar algo à história.

No entanto, mesmo desgastando esta fórmula, Spohr consegue manter Anjos da Morte interessante até o fim, principalmente pela profundidade e carismas dos personagens que escolhe para delinearem a história. Denyel é o bad boy sujo e de soberba inconfundível que faz a afeição se tornar fácil. Suas viagens pelas épocas de guerra e amor (década de 50) e as situações celestiais e terrenas que o personagem passa ao longo da narrativa é o ponto forte da obra.

Denyel erra com consciência e, por vezes, com um propósito indefinido. Há honra e compromisso em suas atitudes, mas não há nada claro. Nada é preto no branco. Denyel é um anjo que gosta de seus poderes, por mais que os questione; é um anjo que não tem tanto afeto pelos humanos, por mais que os defenda em seu âmago. Esse descaso do personagem com a trajetória de anjos e terráqueos é o que o torna o melhor personagem já feito por Spohr até aqui.

Leia a entrevista que fizemos com Eduardo Spohr

Na outra linha narrativa de Anjos da Morte estão Kaira, Urakin e Ismael, todos no tempo presente e continuando a trama incompleta de Herdeiros de Atlântida. Apesar de ter uma clara importância para a história e alguns momentos de inspiração, não há como competir com os capítulos de Denyel. São personagens celestiais por demais – ainda mais agora que Kaira é uma arconte. E mesmo com a missão de resgatar Denyel, é inevitável a vontade de voltar aos causos do anjo renegado.

Além do carisma do personagem, a ânsia por um capítulo sobre Denyel se deve também ao ótimo trabalho histórico realizado por Spohr. Não há um ano, uma cidade, uma guerra ou uma vila que venha a mente sem detalhes minuciosos; do clima à arquitetura, das pessoas aos animais transeuntes. O uso de mapas no livro também é outro ponto positivo e facilita a localização global da leitura; e ainda ajuda no momento de visualizar as estratégias usadas pelos exércitos envolvidos em certos confrontos.

As guerras escolhidas e a profundidade dada ao protagonista fazem Anjos da Morte ser a melhor obra de Eduardo Spohr. O contexto no qual insere Denyel não só dá ao livro um poder de descrição jornalística, mas também uma emoção literária louvável - algo imprescindível para qualquer fantasia que se preze.

Leia a entrevista que fizemos com Eduardo Spohr

Nota do Crítico
Bom

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