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Crítica

13 Assassinos | Crítica

Takashi Miike faz um réquiem para os samurais e seu labor manual

19.07.2012, às 19H27.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H42

Japão, 1844. Lorde Naritsugu, meio-irmão do xogum, abusa de sua autoridade para violentar mulheres e intimidar oponentes, e é do interesse do próprio xogunato - regime em decadência que luta para sobreviver politicamente - que ele seja morto. O escolhido para liderar um grupo de ataque a Naritsugu no filme 13 Assassinos, o velho samurai Shinzaemon Shimada, é convencido da vilania do lorde quando vê uma mulher que teve braços e pernas decepados por Naritsugu.

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De algum modo, esse tipo de mutilação parece pesar mais do que qualquer outra na cultura japonesa - yakuzas cortam seus dedos quando falham, e em 2010 Kôji Wakamatsu fez um filme todo sobre mutilações de membros e vazio existencial, o pesado Caterpillar. É como se a pessoa perdesse não apenas a mobilidade mas também o sentido de ser, a capacidade de executar um ofício manual que define sua vida. Quando se fala no Japão feudal, especificamente na figura dos samurais, essa questão da dignidade do ofício é central, e o que o diretor Takashi Miike oferece em 13 Assassinos é a oportunidade de ver um trabalho manual posto em prática por homens em condições de executá-lo.

A comparação que se faz é com Os Sete Samurais - o 13 Assassinos de 1963 que inspirou Miike foi acusado na época de plagiar o clássico de Akira Kurosawa - porque toda a hora final do longa de Miike envolve uma catártica batalha campal do grupo guerreiros, encastelado em uma vila, contra o exército de Naritsugu, bem ao modo de Os Sete Samurais. Assim como o xogunato, em 1844 a cultura dos samurais também está em declínio - "hoje em dia espadas só servem pra cortar rabanete", diz um personagem - e essa catarse funciona, de certo modo, como um sangrento réquiem para os samurais.

Embora não seja particularmente memorável (a comparação com Os Sete Samurais só enfraquece 13 Assassinos, e Miike recebeu mais elogios em festivais por seu filme seguinte, Ichimei, outro conto de samurais), o longa é feito com nítido apuro visual. A opção pela janela horizontalizada do Scope, 2,35:1, e os travelings laterais dentro de casas e dojos reforçam, na primeira metade do filme, a cerimônia que separa pessoas e divide hierarquias (de mestres e aprendizes, de chefes e subordinados); na cena em que Shinzaemon encontra seu nêmesis, por exemplo, cada um fica num canto no quadro, um de frente para o outro, na mesma altura, em sinal de respeito. Na última hora, porém, a ação se aglomera no centro do enquadramento, e o fundo fica poluído de elementos visuais. Não há mais espaço para se distanciar.

Da mesma forma, as lâminas que são omitidas no começo do filme (suicídio e homicídio são fimados com a câmera fixa nos rostos dos personagens, enquanto o ato em si fica implícito no extracampo) ganham seu espaço no final - são várias espadas, cravadas no chão como um cemitério de armas, ao alcance desses ultimos samurais. É, novamente, a ideia de mostrar um ofício posto em prática com a solenidade que dele se exige - e o festival de lama e sangue de 13 Assassinos não suja esse cerimonial.

13 Assassinos | Cinemas e horários

13 Assassinos | Trailer legendado

Nota do Crítico
Bom
13 Assassinos
Thirteen Assassins
13 Assassinos
Thirteen Assassins

Ano: 2011

País: Japão, Inglaterra

Classificação: 16 anos

Duração: 126 min

Direção: Takashi Miike

Roteiro: Daisuke Tengan, Kaneo Ikegami

Elenco: Kōji Yakusho, Takayuki Yamada, Yûsuke Iseya, Gorô Inagaki, Kazue Fukiishi, Hiroki Matsukata

Onde assistir:
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