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2 Dias em Paris

Julie Delpy mostra em comédia o que aprendeu com Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol

13.03.2008, às 16H00.
Atualizada em 12.11.2016, ÀS 00H02

Em seu segundo longa-metragem como diretora, a atriz parisiense Julie Delpy honra uma longeva tradição do cinema francês, a de discutir relações amorosas enquanto flana-se pelas ruas da Cidade Luz. 2 Dias em Paris (2 Days in Paris, 2007) está, porém, condenado a ser comparado com dois filmes hollywoodianos similares a 2 Dias em Paris e que marcaram Delpy: Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr-do-Sol (2004).

Os filmes falados-e-andados de Richard Linklater não apenas devem vir à mente do espectador como, evidentemente, devem ter influenciado Delpy sobremaneira. Fazendo a diferenciação em poucas palavras: 2 Dias em Paris é mais comédia de costumes - de um humor cosmopolita quase Annie Hall - do que os filmes de Linklater, e o tipo de reflexão que o filme de Delpy sugere acerca do amor e da vida, ainda que igualmente verborrágico, é bem mais comedido do que a verdadeira sessão de terapia que é Antes do Pôr-do-Sol.

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Se dá para dizer que esses dois filmes de Linklater são descompromissados, o de Delpy é ainda mais - o que de antemão já é um ótimo sinal.

Além de produzir, escrever e dirigir, ela interpreta Marion, uma fotógrafa francesa cuja relação com o estadunidense Jack (Adam Goldberg) é colocada à prova quando os dois, antes de voltar para Nova York das suas férias em Veneza, passam os tais dois dias na França. A piada do pôster resume tudo: "Jack sabia que Paris é a cidade dos amantes, mas não sabia que eles são todos ex-namorados de Marion".

O choque de línguas e culturas entre França e EUA rende a maior parte das piadas do filme, metaforizado na figura desencanada do pai de Marion (vivido por Albert Delpy, pai de Julie na vida real) e dos ex-namorados dela versus a pose cool-neurótica de Adam Goldberg. Se você antipatiza com franceses, terá seus momentos de desforra, e a lógica vale para o outro lado também. O fato de Julie Delpy ser fluente nas duas línguas e próxima das duas culturas lhe permite tirar sarro de ambas.

O único ruído, de fato, em 2 Dias em Paris é o esforço de incluir uma trama causal dentro de um subgênero, o da comédia observacional, que não combina bem com esquema de causas e efeitos. Delpy tem uma trama a movimentar - o ciúme crescente de Jack a partir dos indícios de adultério que ele pesca - mas a maneira como ela, enquanto roteirista, distribui esses indícios é antinatural. E sendo o filme naturalista que é, quase improvisado, 2 Dias em Paris periga implodir por conta desses instantes de artificialidade.

Julie Delpy compensa não só cercando-se de ótimos profissionais - como o diretor de fotografia Lubomir Bakchev, de contribuição crucial para a estética câmera-na-mão - como também se entregando ao filme sinceramente. A autoralidade é o mais importante. Eventuais deslizes se corrigem no percurso.

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