Já virou clichê escrever a expressão "A vida imita a arte" (ou vice-versa). Mas é triste quando se vê que a arte não ensina as pessoas a viver como deveriam. Em A Banda (Bikur Ha-Tizmoret, 2007), um grupo de músicos egípcios chega a Israel e, sem ajuda dos anfitriões que os chamaram para tocar em um evento cultural no país, acabam pegando um ônibus errado e parando em um vilarejo "sem centro cultural árabe, sem centro cultural judaico e sem cultura alguma", nas palavras da protagonista Dina (Ronit Elkabitz). O desenrolar da trama é uma comédia dramática que mostra as diferenças entre as pessoas e, acima de tudo, suas semelhanças, seus problemas.
O cineasta estreante Eran Kolirin, que também assina o roteiro, consegue contar uma história que ao mesmo tempo diverte o público e mostra que as desavenças políticas entre os dois povos não fazem o menor sentido. Um pensamento que infelizmente não é compartilhado por todos.
a banda
a banda
Mesmo premiado na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes em 2007, A Banda foi banido do festival de cinema do Egito, após protestos dos atores locais, que ameaçaram boicote caso o longa fosse exibido. O estopim teria sido uma cena de sexo entre representantes dos dois países, que algumas mentes retrógradas julgaram inapropriada pela eterna disputa entre os dois vizinhos.
Absurdos como esse só aumentam a obrigatoriedade de sair de casa no meio desta temporada de blockbusters para ver um filme simples, independente e muito comovente. Além da trama central, que coloca os músicos egípcios em contato direto com os islaelenses, já que terão de passar a noite por ali, a história vai desenvolvendo pequenos dramas pessoais, que vão se desenrolar paralelamente, explicando de forma bastante inteligente quem é quem neste bem pensado quadro pintado pelo diretor.
E para não deixar apenas os organizadores do festival egípcio em maus lençóis, vale lembrar também que A Banda ganhou oito prêmios da Academia Israelense de Cinema - incluindo Melhor Filme -, o que o tornava automaticamente o candidato do país a uma vaga na categoria de filmes estrangeiros no Oscar. A Academia de Filmes, Artes e Ciência dos Estados Unidos, porém, não entendeu a mensagem globalizada e cheia de esperanças que o longa carrega e o desclassificou pelo excessivo uso do inglês, a língua que fazia a ponte entre as duas culturas. São as regras, nós sabemos, mas não seria o mundo muito melhor se a mensagem do filme fosse divulgada e as pessoas começassem a entender que o melhor é viver em paz com os próximos?