De trilogias também se faz o cinema cafona francês. Segundo filme da série que o diretor Claude Lelouch chamou de Le Genre Humain (o gênero humano), continuação de Les Parisiens (2004), A Coragem de Amar reafirma o talento dos herdeiros e bastardos da Nouvelle Vague para filmar belas mulheres - e só.
Irmão sem talento de Louis Malle e François Truffaut, Lelouch investe no filme coral, antes de apelar para a metalinguagem, para falar de relacionamentos à francesa. Há uma ladra de butiques que encontra sua alma gêmea na forma de um cantor italiano cinquentão. Há o empresário de família russa do ramo de pizzarias que se apaixona pela mulher de quem compraria uma mansão. E há duas irmãs gêmeas que fazem a ponte entre os dois núcleos dramáticos e, como todos, não sabem se encaram a paixão com otimismo ou desesperança.
coragem de amar
Há uma bela mulher aqui, não propriamente uma descoberta de Lelouch, mas um rosto que ainda não virou sumidade internacional: Maïwenn Le Besco, a intérprete da jovem Shaa. A forma evidentemente enamorada com que o cineasta aproxima o close-up do sorriso largo de Shaa é uma lufada de epifania visual em meio à melosidade das chansons e à floresta negra que é o texto arrastado de Lelouch.
Se o cinema francês dos anos 60 e 70 virou sinônimo de chatas relações discutidas a dois no café, no almoço e no jantar, a culpa em boa parte é dos filmes que Lelouch repete desde Um Homem, Uma Mulher (1966). Para o bem ou para o mal, este é o tipo de cinema que ele sabe e insiste em fazer. Mas, como disse acima, há em A Coragem de Amar uma adição: a metalinguagem. E rostos à parte, até sobra uma cena inspirada, quando o próprio diretor aparece em quadro e faz o italiano repetir mil vezes a Shaa que não a ama.
Amar demais é mesmo um porre.