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A Fronteira da Alvorada

Philippe Garrel filma a sedução da imagem sem economizar no drama

21.10.2008, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H41

Rico em musas, de Anna Karina a Ludivine Sagnier, o cinema francês sabe o fascínio que exerce a beleza de uma atriz. É por essa beleza que se apaixona François (Louis Garrel), o protagonista de A Fronteira da Alvorada (La Frontière de l'aube, 2008). Ainda mais porque François é fotógrafo - é desse fascínio que ele vive.

A musa é Carole (Laura Smet), atriz solitária, ainda que rodeada de amigos, com histórico de turbulências, casada com um profissional hollywoodiano. Essas informações só recebemos depois. Antes de mais nada há a imagem de Carole, que posa para François em um apartamento em Paris: o rosto arredondado, os seios pequenos, os olhos e os cabelos claros que se valorizam com a fotografia em preto-e-branco.

fronteira da alvorada

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O diretor Philippe Garrel, pai de Louis, já começa A Fronteira da Alvorada mostrando, como em Amantes Constantes, que frequentemente o gestual fala mais que as palavras. A forma como Carole e François se movem respeitosamente na apertada sacada do apartamento, como Carole se recolhe quando François chega mais perto com o fotômetro... Os dois mal se conhecem e já há uma evidente tensão ali.

Por fim, o fascínio da imagem fala mais alto: a câmera de Garrel permanece em close-up em Carole por uns 20, 30 segundos, antes que a atriz e o fotógrafo (que ficou fora de enquadramento o tempo inteiro, então mais do que nunca François representou a nós, os observadores) finalmente se entreguem ao beijo.

A Fronteira da Alvorada trabalha em cima dessa idéia do fotógrafo que se apaixona por uma imagem - o que acabará transformando a vida de François. No começo do filme Carole diz a um amigo que é uma atriz, não uma estrela. Mas é o "mistério Carole", afinal, que nos seduz, mais do que a "mulher Carole". Nas poses do ensaio fotográfico há um misto de encenação e de verdade, como se, por trás da capa de musa, Carole deixasse passar um pouco de suas angústias. E essa incerteza é o que atrai François.

A corajosa opção de Philippe Garrel pela tragédia, com toques até de melodrama e sobrenatural do meio para o fim, só amplifica o encantamento inicial. É evidente que muita coisa ainda acontece em A Fronteira da Alvorada, mas não convém explicar aqui. O ideal romântico que rege François, porém, não muda.

A certa altura, quando ele diz à sua noiva que não pode usar um salão nos fundos da casa do sogro como estúdio fotográfico "porque ali tem luz demais", há um significado embutido na frase: François prefere a imagem enevoada de uma idealização à luz da realidade.

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