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Área Q | Crítica

Filme espírita se põe contra exploradores e descrentes, mas tem na propaganda turística seu forte

12.04.2012, às 17H04.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 05H07

Fez quatro anos que os dramas espíritas viraram um filão nos nossos cinemas, mas os filmes da companhia cearense Estação Luz não parecem ter evoluído muito nesse período. Bezerra de Menezes (2008), As Mães de Chico Xavier (2011) e Área Q (2011) têm em comum a pobreza narrativa e o proselitismo religioso; a diferença é que hoje, obviamente mais exposta, a produtora assume em Área Q uma posição mais defensiva.

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Na trama, Isaiah Washington, ator conhecido por sua conturbada passagem pela série de TV Grey's Anatomy, interpreta Thomas Matthews (pra não faltar um nome bíblico ele tem logo dois...), um jornalista dos EUA que perde seu filho misteriosamente. Para tirá-lo do luto, seu chefe envia Thomas para fazer uma reportagem sobre os misteriosos relatos de abdução que grassam na região no interior do Ceará que tem cidades iniciadas com a letra Q, como Quixadá e Quixeramobim. Lá, Thomas conhece uma jornalista brasileira (Tânia Khalill) que também desconfia da veracidade desses fenômenos.

A atividade sobrenatural está relacionada com o sumiço da criança, claro, mas essa não é a única lição que Thomas vai tirar dessa história. À doutrina espírita se juntam, no filme, dois outros tópicos (que já eram insinuados na escolha de um jornalista/turista como protagonista): o mercado do turismo fantástico-esotérico-religioso na Área Q e o tratamento que a mídia dá a essas crenças. É a posição reativa que a Estação Luz assume aqui, como se a função deste filme não fosse tanto doutrinar novos seguidores, e sim articular uma resposta aos descrentes e aos "aproveitadores".

O que torna Área Q curioso - à parte seu discurso carola-reacionário do homem consciencioso que "não resiste à sedução" da mulher pecaminosa - é que o filme critica a exploração turística da região, e ao mesmo tempo é todo estruturado e filmado justamente como um cartão postal de lá. São constantes os planos aéreos de helicópteros, mostrando a natureza de Quixadá, e a cada plot point Thomas está em um ponto turístico diferente (o Centro Cultural Rachel de Queirós, a Pedra da Galinha Choca...).

Nessa inconfessa propaganda turística da Área Q, o que mais chama atenção é a frequência com que o diretor Gerson Sanginitto filma o sol, de dia e à tarde, e depois à noite busca os focos de luz em computação gráfica das aparições do espaço. Talvez seja um reflexo inconsciente, mas há um esforço de convencimento aí, como se o céu sem nuvens de Quixadá, com seu horizonte largo que permite horas de exposição à luz, fosse um palco privilegiado de contato espiritual - um lugar onde a luz material do sol e a imagem de uma luz divina são uma coisa só.

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Ruim

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