Uma equipe de filmagens holandesa, liderada pelo cineasta Mark Verkerk, acompanhou durante um ano inteiro o monge budista Phra Khru Bah Neua Chai Kositto, também conhecido como Monge Tigre, e seu trabalho.
O religioso administra um monastério numa região perigosa da Tailândia, onde há grande movimentação de traficantes de drogas. A região fronteiriça abriga também dezenas de pequenas vilas paupérrimas, quase favelas no meio da mata densa.
Crianças Perdidas de Buda
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Khuru Bah, seu corpo coberto por imagens e orações, é um dos últimos monges viajantes. Ele vaga a cavalo com seus noviços de vila em vila, levando sua fé e bençãos e ajudando mães necessitadas, recrutando seus filhos para o monastério do Cavalo Dourado, onde eles recebem educação, boa alimentação e "tornam-se homens que importam". Ah, e ensina boxe tailandês a eles.
Sim, Khru Bah é um ex-lutador, com centenas de combates - "mas só me lembro das vezes que perdi". Cansado das lutas, descobriu sua vocação espiritual e a levou adiante. Suas origens, porém, não são o foco de interesse da produção. Aliás, as poucas histórias de Khru Bah a respeito parecem exagerar (ou mesmo ficcionalizar) fatos, algo nada budista dele, o que deve ter desmotivado a produção da intenção de persegui-las.
Assim, exageros à parte, é a relevância do homem como força pacificadora na região o interesse. Sua interação com a sociedade local, o respeito dos aldeões, os projetos sazonais (parte do filme mostra a reconstrução de um templo longínquo) e o trabalho com as crianças são temas dos sonhos de qualquer documentarista - e Verkerk deixa claro que sabe disso, demonstrando com seu capricho cinematográfico - bela fotografia e edição apenas registrando ações e praticamente sem entrevistas e depoimentos.
Crianças Perdidas de Buda é, assim, um retrato apaixonado de uma figura maior que a vida, mas que permanece humana - ama, ensina, busca o bem; mas também se gaba dos feitos, orgulha-se do que construiu e até senta uns cascudos em quem se comporta de maneira oposta.