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As Mãos

Filme ítalo-argentino conta a história real do padre que tinha o dom da cura

27.12.2007, às 17H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 04H12

O espírito do Natal ainda está aí, um ano novo cheio de esperança se avizinha. Então não vou começar a crítica de As Mãos (Las Manos) dizendo que o filme é um desserviço obscurantista. Vou começar pela sinopse.

O longa do bonaerense Alejandro Doria ficcionaliza passagens da vida de Mario Pantaleo (1915-1992), padre italiano que vivia na Argentina e tinha o dom de curar efermidades com as mãos. Assim atestavam seus fiéis e pacientes, que chegavam na paróquia em Córdoba com um câncer e saiam curados depois do toque de Padre Mario. As Mãos não questiona o suposto dom - pelo contrário, narra como Mario Pantaleo foi alvo dos descrentes e da própria instituição católica por ter um poder incompreendido.

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O ator Jorge Marrale interpreta Pantaleo com a paixão e a entrega que o papel exige. Acompanhamos sua história desde o momento em que Pantaleo é destituído da paróquia e começa a construir sua própria igreja num terreno baldio de Córdoba, até a hora em que ele viaja de volta à sua Itália natal para pedir licença ao bispo para pregar na igreja recém-construída. Ao lado do padre, o tempo inteiro, uma senhora que teve a saúde devolvida pelo milagre das mãos e desde então se devotou a seguir Pantaleo, Perla (Graciela Borges, de O Pântano).

Por que As Mãos é um desserviço? Porque a defesa da santidade de Padre Mario vem acompanhada da crítica ao racionalismo. São frequentes diálogos como "hoje em dia a modernidade acabou com a fé" e cenas como a estupefação de médicos e cirurgiões, incapazes de salvar vidas, diante do poder do milagreiro. Obscurantismo é isso: não só defender a crendice como dizer que a razão e a medicina são um atraso.

Deixando o julgamento de idéias de lado, As Mãos mal se sustenta mesmo como narrativa. Pantaleo se cerca de personagens funcionais sem desenvolvimento a contento, especialmente Perla, cujo arco pessoal é abandonado no meio do caminho. A mulher vira um acessório, assim como todas as outras pessoas que cruzam a tela apenas para incorporar estereótipos: o jovem seminarista que suspeita do padre, o velho bispo que se preocupa mais com política... E quando Mario Pantaleo reaparece em cena, tome violino.

O que As Mãos tem de interessante é mostrar como os católicos são ligados a seus símbolos - ao seu status quo. Mario Pantaleo foi escorraçado da igreja e atendia doentes de pé no meio da rua, mas a câmera do diretor Alejandro Doria mostra como era importante para o padre a instituição. A cena em que Pantaleo retorna ao lugar onde cresceu e se ordenou na Itália, com o plano fechado em Marrale passando as mãos pelas paredes, é de um simbolismo central no filme. Pantaleo tem o dom, mas esse dom só se legitima pela igreja - a mesma igreja que lhe renega a existência do dom.

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