Harry Houdini (1874 - 1926) é uma das figuras mais interessantes da virada dos séculos 19 e 20. Ilusionista, artista de fugas e, mais importante, alguém determinado a provar (ou desmentir) cientificamente a existência da vida após a morte, Houdini foi eternamente imortalizado no imaginário pop.
Houdini merecia um filme por um Martin Scorsese, alguém que conseguisse entender a sua complexa personalidade, ou ficaria bem na estilização fantástica de cineastas como Terry Gilliam e Tim Burton. Mas ao longo da história coube às "Gillian Armstrongs" da vida a tarefa de reduzir sua história a draminhas açucarados, como no recente Atos que Desafiam a Morte (Death Defying Acts, 2008).
death defying acts
A diretora de Charlotte Gray entrega um filminho fácil, com um pano-de-fundo romântico, contado a partir do ponto de vista de uma criança (Saoirse Ronan).
A história acompanha uma bela médium charlatã que aceita o desafio de Houdini (o bom Guy Pearce com uma peruca perfeita): ele dará 10 mil dólares a qualquer um que conseguir provar a existência do Além ajudando-o a entrar em contato com sua mãe morta. Mas o mágico exige provas: as últimas palavras da mãe, que apenas ele ouviu. A médium (vivida pela bela mas insossa Catherine Zeta-Jones), passa então ao convívio do escapista - e um inevitável interesse romântico surge entre os dois.
O único interesse real do filme são as cenas divididas por Pearce e o excelente Timothy Spall. O ator, conhecido pela série Harry Potter, na qual ele interpreta o Rabicho, vive o empresário - e consciência - de Houdini, Sr. Sugarman. Os diálogos dos velhos amigos têm uma intensidade que ultrapassa o próprio filme.
O desafio de Houdini continua vivo ainda hoje, nas mãos do mágico James Randi. A fundação educacional JREF oferece 1 milhão de dólares a qualquer um que ofereça "evidências de fenômenos paranormais, supernaturais ou de poderes ocultos de qualquer espécie, desde que observadas algumas condições pertinentes". Até hoje ninguém conseguiu, assim como segue o desafio de retratar de maneira remotamente interessante a vida de Houdini nas telas.
