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Banquete do Amor

Diretor de Kramer vs. Kramer tenta se atualizar em matéria de relacionamento conjugal

08.05.2008, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H35

Quando Robert Benton levou os Oscars de roteiro e direção por Kramer vs. Kramer, os tempos eram outros. Discutir relações em 1979 envolvia mexer com tabus que em 2008 se tornaram banalidade. Da mesma forma, o cinema hollywoodiano naquela época não tratava o homossexualismo e a nudez com a naturalidade de hoje em dia.

Benton tenta com Banquete do Amor (Feast of Love, 2007) dar uma cara mais atual aos conflitos de casal ao mesmo tempo em que flerta com essa tal "modernidade": filma mulheres nuas se beijando, jovens fazendo amor em campos de futebol, reúne vários casais no estilo que virou regra, a trama-mosaico. Benton sabe tratar personagens com respeito, mas será que este cronista do século passado se sente à vontade para falar dos anos 2000?

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Reprisando seu eterno papel de conselheiro existencial, Morgan Freeman vive o professor de filosofia Harry Stevenson. Almas carentes de ajuda não faltam: tem o tipo certinho (Greg Kinnear) que projeta nas suas esposas as mulheres que só ele vê, tem a corretora de imóvel (Radha Mitchell) que não se acerta com seu amante casado, e tem o casal adolescente (Alexa Davalos e Toby Hemingway) cujo amor perfeito sofre diante das imperfeições do dia-a-dia. O professor pena para ajudar cada um deles e esquece que quem realmente precisa de ajuda é si mesmo.

O filme abre deixando claro que estamos na cidade de Portland, Oregon, mais exatamente num meio universitário que reúne cabeças boas, corpos cuidados e um ambiente saudável. Logo de cara duas atletas flertam após um jogo de softball enquanto se banham da luz que entra pela persiana de uma lanchonete. Close-ups de belos rostos, feromônios no ar como em um sonho etéreo... Com alguns minutos o filme sugere que vai ser uma refeição erótica de fato, e Freeman, aquele que tudo vê e no fim não come ninguém, só observa.

Benton sabe montar o clima, difícil é segurá-lo. Não demora para que esse jogo de luz e sombra vire um chavão cafona, com um sem-fim de persianas emprestadas de pornôs soft, à medida em que os casais vão se metendo na trama e o diretor precisa sustentar sua escolha "liberal". Teria o diretor perdido a mão nesse vácuo de 30 anos? Se não for assim então é preciso rever Kramer vs. Kramer urgentemente, porque não é capaz que um vencedor do Oscar erre tão primariamente em matérias como iluminação e encadeamento de planos.

Um exemplo é a maneira como a cartomante se movimenta de um plano ao outro, com cortes que parecem soluços, e a má decupagem das cenas que mostram a corretora em momentos de introspecção. Outro, abismal, é a luz baixa do quarto que pega Radha Mitchell nua e no momento seguinte, quando ela veste a camisa, a luz do mesmo quarto já está mais forte. São detalhes que podem passar despercebidos pelo público, mas que a um profissional como Benton não se tolera.

Formalismos à parte, é preciso no fim muita boa vontade para engolir o indigesto banquete. Na ânsia de aderir a uma narrativa coral, Benton subestima o potencial de todos os personagens. E incapaz de dar substância a cada um deles, tapa os buracos com frases feitas (que solução batida evocar deuses gregos...) e até aquela música pegajosa de Apenas uma Vez, "Falling Slowly".

Que seja dado um desconto a Robert Benton: desta vez ele não assina o roteiro. A adaptação do romance de Charles Baxter, que dá origem ao fim, fica nas mãos da roteirista Allison Burnett. A direção de Benton é amadora, mas de amadores - ou melhor, de profissionais que reproduzem fórmulas com amadorismo - Banquete do Amor está cheio.

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