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Crítica

Camille Claudel, 1915 | Crítica

Bruno Dumont faz seu filme mais contundente contra o dom que a fé tem de deformar o homem

08.08.2013, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 15H04

Há cineastas que negam Deus para redimir o homem, para devolver ao homem sua autoridade sobre o mundo, e há diretores como o francês Bruno Dumont, que, antes de negar Deus, responsabilizam-no pela paralisia do homem e denunciam Sua omissão.

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Assim como outros protagonistas em estado demencial de filmes anteriores de Dumont, Camille Claudel (Juliette Binoche) parece imobilizada no tempo e no espaço à espera de um sinal divino que lhe devolva a vida e a razão. Ao contrário do Camille Claudel estrelado por Isabelle Adjani em 1988, o de Dumont - justamente intitulado Camille Claudel, 1915 - não narra as causas (o caso com Auguste Rodin, a morte do pai) que levam a artista a se isolar do mundo em seu ateliê, só a principal consequência: o confinamento no sanatório Montdevergues, onde Camille foi internada pela família no fim de 1914 e onde passou o resto dos seus dias.

Não é a primeira vez que Dumont trabalha com uma protagonista feminina, mas é a primeira vez que o faz com uma atriz de renome. A figura de Binoche não se sobrepõe ao filme; na verdade a atriz faz um trabalho primoroso de adequar-se aos enquadramentos sufocantes que o cineasta lhe reserva, e é nos pequenos atos - no amarrar firme de um cadarço ou subindo a escada de dois em dois degraus, demonstrações de determinação - que percebemos que Camille Claudel não é louca - pelo menos não louca como creem os familiares.

Por que, então, se conserva sua sanidade, se mantém seu olhar de artista sobre o mundo material (as formas refletidas pela luz do Sol na janela, que ela admira), Camille busca socorro no imaterial, no terço, na "Aleluia", no "Ave-Maria"? Que tipo de luz pode ela receber por subir até o alto do morro? Se a religiosidade é um tipo de demência, como crê Dumont, então Camille não é diferente das doidas desdentadas do sanatório, que gritam e batem na mesa porque não sabem como, ou para quem, articular seu pedido de clemência.

Não é por acaso que Binoche aparece com cabelos ao vento no filme todo, enquanto as freiras do sanatório cobrem a cabeça com véu, como vultos de ex-mulheres. A feminilidade de Camille, sua condição de musa, é um risco (o filme abre com ela no banho, acalmada quando dominam seu cabelo), a verdadeira "deformação" que a internação forçada da personagem visa combater.

Apesar da força da interpretação de Binoche, Camille Claudel, 1915 não teria a mesma contundência sem o contraponto, o momento em que conhecemos seu irmão, o poeta Paul Claudel (Jean-Luc Vincent) Ele busca a Palavra em uma abadia no meio de uma floresta. Vemos Paul e um padre também subindo um morro, como Camille, mas a escalada serve para admirar a abadia de cima, duas torres cortando a copa das árvores: a Obra.

Que uma mosca passe zumbindo alto por Paul, como se vigiasse carniça, é um desses caprichos perversos que Dumont se permite às vezes. É a única coisa fora de tom em Camille Claudel, 1915, um manifesto preciso contra o dogmatismo misógino e o poder de coação da Igreja, que tem em Paul a personificação do prazer da penitência, da demonstração de poder do Criador, masculino, sobre a sua criatura, feminino.

<li><a href="https://omelete.com.br/filmes-em-cartaz/?busca=Camille+Claudel"><em>Camille Claudel, 1915</em> | Cinemas e horários</a><br>
Nota do Crítico
Excelente!
Camille Claudel, 1915
Camille Claudel, 1915
Camille Claudel, 1915
Camille Claudel, 1915

Ano: 2012

País: França

Classificação: 14 anos

Duração: 95 min

Direção: Bruno Dumont

Roteiro: Bruno Dumont

Elenco: Juliette Binoche, Jean-Luc Vincent, Emmanuel Kauffman, Marion Keller, Robert Leroy, Armelle Leroy-Rolland

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