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As Canções | Crítica

Eduardo Coutinho faz o contraplano de Jogo de Cena para mostrar melhor que atuação e "verdade" são indissociáveis

08.12.2011, às 20H23.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H32

Em Jogo de Cena, o documentarista Eduardo Coutinho colocava mulheres para contar suas histórias e atrizes para interpretá-las, sentadas em uma cadeira preta no tablado de um teatro vazio, de costas para as fileiras de poltronas. Em As Canções - filme que reúne relatos de pessoas sobre as músicas que marcaram suas vidas - o ambiente é o mesmo, a cadeira preta também parece ser a mesma.

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Mas uma primeira diferença que se permite notar é que os entrevistados de Coutinho neste novo filme-ensaio não ficam mais de costas para a plateia, e sim sentados diante da pesada cortina ao fundo do proscênio. Todos eles precisam atravessar a cortina para então se sentar diante do cineasta. Pode parecer uma mudança ínfima de posicionamento da câmera, mas Coutinho tem algo a dizer com isso. É como se As Canções fosse o contraplano de Jogo de Cena.

Primeiro, a mise-en-scéne da cortina adiciona dramaticidade a um filme que é, de fato, abertamente mais emocional. Ao lembrar - e cantar - músicas antigas ou mesmo composições próprias, os entrevistados acessam memórias específicas. Não raro, canções de amor proibido ou de amor não correspondido marcaram justamente esse tipo de relação na vida de alguns entrevistados (relatos que Coutinho decupou com a ajuda de quatro auxiliares, creditados no fim do filme). O choro vem fácil, em alguns casos incontrolavelmente.

Quando colocou as mulheres em Jogo de Cena "na plateia", sem diferenciar as atrizes misturadas às donas das histórias reais, Coutinho expunha gatilhos, cacoetes e métodos daqueles que vivem de atuar - e, por extensão, questionava a capacidade dos documentários de identificar a verdade diante de si. Aquele filme já via, ademais, que essa separação entre o real e o inventado no fundo inexiste - afinal, uma história sempre é reinventada quando contada diante da câmera ligada, por mais "real" que seja.

É em As Canções que essa percepção se consuma: a interpretação (entoar uma música, "atuá-la") e a emoção "legítima" que essa canção dispara são indissociáveis. Daí o tablado, divisado pela cortina, que torna a todos intérpretes de si mesmos.

"Falar aqui ajudou muito", diz a última entrevistada do filme, que separou-se do marido embora o ame. Coutinho dá a entender que o relato dela é o último porque ela verbaliza aquilo que os demais personagens talvez não percebam (como o homem que diz: "não sei por que chorei lembrando dessa música"): As Canções funciona como uma grande sessão de terapia. Atores, artistas, afinal, são não apenas intérpretes de si mesmos como também analistas de si mesmos.

As Canções | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo
As Canções
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As Canções

Ano: 2011

País: Brasil

Classificação: LIVRE

Duração: 90 min

Direção: Eduardo Coutinho

Onde assistir:
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