Na metade de janeiro o alemão Armin Meiwes, condenado a oito anos e meio de prisão por canibalismo, ameaçou processar os realizadores de Butterfly, a Grimm love story, filme de horror independente que será estrelado por Keri Russell (Felicity). Dizia que a obra de ficção se baseava sem permissões em seu caso real, poderia estigmatizá-lo nas telas e prejudicar suas apelações no tribunal. Ameaçou, processou, e nos últimos dias Meiwes ganhou o primeiro round.
Butterfly, dirigido por Martin Weisz, tinha seu lançamento na Alemanha marcado para hoje, 9 de março. Nele, Keri vive uma estudante estadunidense que parte para a Alemanha para pesquisar a vida de um canibal (Thomas Kretschmann) para sua tese de graduação. No entanto, ela fica obcecada com o criminoso e começa a mergulhar num estilo de vida diferente e alienado. É na internet que o canibal vivido por Kretschmann faz suas buscas. Foi na rede real que Meiwes encontrou o homem que viria a ser sua vítima.
Na sexta-feira, uma corte decidiu que o filme se mira em demasia no caso de Armin Meiwes e infringe injustificadamente os direitos pessoais do canibal. Nem é preciso ir longe para provar a relação: o título de trabalho do filme na Alemanha, Rohtenburg, faz referência à cidade natal de Meiwes. A exibição do filme foi suspensa.
A distribuidora berlinense Senator Film, que detém os direitos da película, condenou a decisão, dizendo que ela teria consequências devastadoras para a indústria dos filmes e para a arte dos filmes. Isso [a decisão] é totalmente incompreensível, e em nossa opinião inconsistente com a Constituição, que um trabalho artístico lidando com pessoas da história contemporânea agora dependerá da aprovação delas e de sua cobiça por lucros. Balela, claro. Todo direito de imagem e propriedade é negociada antes da produção de uma cinebiografia. É o a-bê-cê da indústria - que a produtora do filme, a Atlantic Streamline de Los Angeles, ignorou gatunamente.
Originalmente, o canibal recebeu a pena de oito anos e meio em 2004 - mas a decisão passa pela atual revisão, que permite a contra-ofensiva do acusado, porque a Suprema Corte julgou que a condenação primeira fora leniente demais. Meiwes admitiu ter matado Bernd-Juergen Brandes e comido pelo menos vinte quilos da carne do falecido, mas sua defesa alega consentimento. Um vídeo que o assassino fez no momento do crime mostra que Brandes autorizou-o. E na lei alemã essa espécie de homicídio consentido dá, no máximo, cinco anos de prisão.
O advogado de Meiwes, Harald Ermel, diz que o processo não tem motivações financeiras, mas visa apenas preservar a verdade. O final [do filme] é totalmente equivocado. A vítima é apunhalada uma dúzia de vezes. Na realidade, foi uma vez só, defende, dizendo que o filme transformou seu cliente em um assassino bestial. A idéia agora é impedir a distribuição internacional. Paralelamente, Meiwes diz que negociou as licenças de adaptação de sua história com a companhia de documentários Stamfwerk por ver que, assim, poderia apresentar seu lado da questão.
A Atlantic Streamline tenta recorrer da decisão.