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Cinturão Vermelho

David Mamet arma mais uma de suas tramas para testar a perseverança de um lutador

20.06.2008, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 04H10

Assim como em O Assalto (2001), o cineasta e dramaturgo David Mamet constrói em Cinturão Vermelho um conto moral em cima de uma teia de causalidades. O professor de jiu-jitsu Mike Terry (Chiwetel Ejiofor) sempre diz que toda situação ruim tem uma saída. Pois, imobilizado numa sucessão de causas e efeitos que levam a suicídios e traições, ele vai precisar achar para si uma dessas saídas.

Por acreditar na pureza - da luta que pratica, das pessoas - Terry se enrola na teia. Não que ele seja incapaz de se defender, pelo contrário. Faixa preta casado com uma brasileira (Alice Braga) do clã Silva de lutadores, Terry é respeitado por seus alunos mas mal visto entre os irmãos dela (Rodrigo Santoro e o lutador John Machado), profissionais da indústria do jiu-jitsu, que o consideram não mais do que um loser incapaz de sustentar a esposa com sua academia de bairro.

Avesso a competições, o protagonista chama atenção por sua técnica quando salva um astro de Hollywood (vivido por Tim Allen) numa briga de bar. Não por acaso, é através de uma televisão, o vídeo de segurança da casa noturna, que começam a reparar em Terry. O poder do registro da imagem já está se insinuando - ao longo do filme interações entre personagens frequentemente se dão por telas, telões - e esse poder imagético, a essência de Hollywood, começa a seduzir o mestre da arte marcial.

E aí Mamet tem o espaço para tecer as suas relações de ato e consequência.

Não é uma teia impecável como a de O Assalto, vale dizer. Incensado por seu talento na construção de tramas - aos olhos da crítica, o lado dramaturgo de Mamet fala mais alto do que sua faceta de cineasta - o roteirista/diretor deixa intersecções falhas em Cinturão Vermelho. O caso da venda dos tecidos fica mal amarrado, e o desfecho do filme, ainda que em total conformidade com o simbolismo que Mamet procura, vai ser mal recebido pela "patrulha do verossímil".

Condenar ou não esses buracos no roteiro, no fundo, é uma questão de olhar: afinal, o que interessa em Cinturão Vermelho é a teia que serve de suporte ao conto moral ou é a própria moral da história em si?

Porque no fim Mamet - que pratica jiu-jitsu há anos e filma os lutadores com especial dedicação, atentando sempre para os movimentos calculados de Ejiofor - entrega um tocante elogio à arte marcial enquanto filosofia de vida. O tatame é uma proteção contra o caos do lado de fora, e neste filme o cineasta testa para ver o que acontece quando a redoma se abre à perversão do mundo. É um teste digno de acompanhar.

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