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Crítica

Conspiração Americana | Crítica

Robert Redford volta à morte de Lincoln para falar da Doutrina Bush

03.05.2012, às 20H00.
Atualizada em 12.11.2016, ÀS 14H07

Quando dizia que as pessoas não sabiam levar o superficial a sério, Oscar Wilde parecia antever, no século 19, que a arte deste nosso tempo colocaria o subtexto acima do texto. Os filmes recentes de Robert Redford, como Leões e Cordeiros e Conspiração Americana, são um exemplo dessa tendência; neles, é dado mais valor ao que a história tem de alegoria, do que à história em si.

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Em Hollywood os democratas e os liberais são maioria, mas Redford parece tomar pra si a defesa das liberdades individuais durante os anos Bush. Conspiração Americana se passa em 1865, durante o julgamento dos assassinos do presidente Abraham Lincoln, mas o filme obviamente está tratando do Ato Patriota e da política do medo dos EUA nos anos 2000, quando os direitos civis e a própria Constituição foram colocados de lado em nome da defesa nacional.

Na trama, James McAvoy faz Frederick Aiken, herói da Guerra da Secessão que, formado em Direito, não pretende seguir carreira no exército. A pedido de um senador, ele assume a contragosto um trabalho ingrato: defender diante de um tribunal militar a mãe viúva Mary Surratt (Robin Wright), dona da pensão onde hospedavam-se os homens que mataram Lincoln. Aos poucos, Aiken percebe que seu trabalho não é só defender a mulher - cuja culpa na conspiração parece evidente - mas também a Lei americana, atropelada no processo em nome da vingança dos militares contra os assassinos do presidente.

Na boca do personagem de Kevin Kline, o Secretário de Guerra Edwin Stanton, o roteiro coloca todas as falas que oficializam a ponte com a doutrina Bush: "o mundo mudou", diz ele, e se os militares estão condenando Mary Surratt de antemão é porque o povo precisa de culpados "para servir de exemplo", em nome da "segurança nacional".

O que reduz Conspiração Americana - um drama de tribunal onde tudo é filmado com muita luz, nas janelas e refletida no chão de pedra, para aumentar a solenidade e a sacralidade da Justiça - é que a trama se desenrola em função das mensagens. Se a filha de Mary é apedrejada, se John Wilkes Booth é mostrado morto com um tiro pelas costas, se as condições na prisão são as piores, tudo isso é organizado para reiterar um discurso contra a crueldade. Dá pra saber já no começo do filme que a namorada de Aiken vai abandoná-lo, porque antes de ser a "namorada de Aiken" ela é mais uma peça no arranjo de injustiças.

Por enquanto o único trabalho de Redford dessa fase anti-Bush que vale conferir é Refém de uma Vida (que ele só protagoniza e não dirige), justamente porque o subtexto não vem antes do texto. É um filme que se infiltra no gênero do suspense para defender uma visão de mundo, mas não subaproveita as possibilidades do gênero - ao contrário de Conspiração Americana.

Conspiração Americana | Trailer

Conspiração Americana | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
Conspiração Americana
The Conspirator
Conspiração Americana
The Conspirator

Ano: 2010

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 123 min

Direção: Robert Redford

Elenco: Evan Rachel Wood, James McAvoy, Kevin Kline, Robin Wright, Alexis Bledel, Justin Long, Tom Wilkinson, Norman Reedus, Toby Kebbell, Jonathan Groff, Danny Huston, Stephen Root, Johnny Simmons, James Badge Dale, Colm Meaney, Shea Whigham, Chris Bauer, Gerald Bestrom

Onde assistir:
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