Filmes

Crítica

Crítica: Colin

Um filme de zumbis que segue o ponto de vista de um deles

29.10.2009, às 19H40.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 02H17

Zumbi bom é zumbi morto. Mas como a obra de George Romero transformou os desmortos nos principais párias da sociedade de nosso tempo, isso levou muita gente a encarar a zumbizada como uma massa de coitados. Viraram até bicho de estimação, entre outras compaixões.

O que nos traz a Colin, do roteirista e diretor estreante em longas-metragens Marc Price.

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O filme começa com Colin (Alastair Kirton) lavando um martelo na pia da cozinha, percebendo que foi mordido no braço por um zumbi. Não dá 15 minutos e ele já está de volta à vida na forma de um lento cadáver. A câmera de Price então acompanha Colin em uma Londres atemporal com indícios de pós-apocalipse. Lixo na rua, fumaça, gritos, barulhos de tiro.

Vendido como o primeiro filme de zumbi narrado pela perspectiva de um deles, Colin tropeça na primeira referência à humanidade perdida do desmorto: Colin sai de casa e pega um Lego do chão, como se fosse um bebê... A forma como Price abraça o lado cafona desse melodrama, um elemento bastante marcante de seu filme, já se mostra neste primeiro instante.

E a péssima imitação que Kirton faz dos mortos-vivos não ajuda. São caras, bocas e gestos (como o ato de segurar o braço esquerdo) que passam a impressão de que Colin está sofrendo, e não apenas desnorteado. Como todo mundo sabe, zumbis não sentem dor. E só pensam em comer. Mas quando Colin passa por carne fresca, parece reticente. Marc Price escolheu o mais chato dos zumbis para acompanhar...

Ou talvez seja o mais existencialista deles. Há momentos em que Colin parece um contemplativo filme iraniano, com a câmera próxima do chão, virada pra cima, mostrando o céu, enquanto Colin atravessa lânguido o quadro. Se as momentâneas cenas de carnificina foram feitas para separar o sensível Colin da barbárie cometida pelos "outros" zumbis, fica difícil dizer. Talvez tenham sido feitas mesmo para colocar todos os amigos da galera pra aparecer no filme.

De resto, é aquele caso clássico de projeto cuja história de bastidores é melhor do que o filme em si. Colin também está sendo vendido como a produção caseira que custou apenas 70 dólares. Dá pra ver onde Price economizou. Apesar do barulho de disparos, não há nenhuma arma de fogo visível no filme (balas de festim inflacionariam o orçamento), e é muito cruel, além de cômico, o cara sair matando zumbis com um estilingue.

Com o tempo, fica a sensação de que o filme partia, desde a premissa, de uma autosabotagem: por mais que zumbis sejam legais, é muito difícil impor a identificação do público com um personagem como Colin, com o mínimo de backstory pra que possamos ter uma base de proximidade. Não por acaso, a coisa começa a melhorar quando o filme (sem tentar anular a selvageria de um zumbi, como fazia antes) coloca em cena a irmã do protagonista e nos dá algum fio para nos conectar com o drama de Colin.

Que fique aí então a lição. Não tente fazer de zumbis mais do que eles são. A mais digna demonstração de respeito que você pode ter diante de um deles é matá-lo de vez com o bom e velho tiro no crânio.

Leia mais críticas da Mostra 2009

Nota do Crítico
Bom
Colin
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Colin

Ano: 2008

País: Reino Unido

Classificação: LIVRE

Duração: 97 min

Onde assistir:
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