Filmes

Crítica

Crítica: Sede de Sangue

Os fetiches e a misoginia de Park Chan-wook enfim encontram o tema certo - e gêneros mil

01.04.2010, às 11H54.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H53

O que Sede de Sangue (Bakjwi) tem de melhor é uma inconsequente oscilação entre gêneros. A cada meia hora, pelo menos, um ganha a vez, sempre escoltados por humor negro, sangue e estilização: drama, depois romance, suspense, surrealismo, suspense de novo, drama e romance de novo.

O que não muda é a misoginia comum aos filmes de Park Chan-wook - autor da Trilogia da Vingança formada por Mr. Vingança (2002), Oldboy (2003) e Lady Vingança (2005). Para o diretor sul-coreano, todo homem está condenado a ruir na mão de uma mulher, até mesmo os vampiros.

sede de sangue

None

sede de sangue

None

sede de sangue

None

Primeiro, o drama. O padre Sang-hyeon (Song Kang-ho, de Mr. Vingança, O Hospedeiro) parece exausto de rezar a extrema-unção aos católicos que vêm morrer no seu leito. Devotíssimo, mas aberto às "obras de Deus por meio da ciência", ele se submete a um experimento que tenta achar a vacina contra um vírus letal. Sang-hyeon reage mal à substância, mas escapa da morte depois de receber uma transfusão de sangue. A população começa a tratá-lo como santo.

Depois, o romance. Sang-hyeon aprende que se tornou uma espécie de vampiro - precisa de sangue novo regularmente para que o vírus não o vença - justamente quando reencontra uma amiga de infância, Tae-joo (Kim Ok-vin), louca para dar. No papel, Sede de Sangue parece uma versão malvada das metáforas de castidade de Crepúsculo, com seu padre desafiado em seu celibato particular. Mas só no papel.

Digamos que Sang-hyeon começou a se perder quando reencontrou Tae-joo... Não estraguemos as surpresas seguintes - são muitas e se renovem com cada mudança de gênero.

A empolgante inconsequência de Chan-wook se estende à sua escolha de simbolismos. Ele não se limita a associar o vinho da missa com o sangue do padre; uma hora Sang-hyeon pega até um espelhinho na mão que, pelo movimento de seus gestos, se assemelha a uma hóstia. Aliás, o vampiro de Chan-wook não tem nada de místico (repare como a câmera se move no banheiro para revelar o reflexo dele no espelho). É um vampirismo essencialmente carnal o de Sede de Sangue, e quando há algo sobre-humano é mais para efeito plástico.

Sendo seus vampiros seres carnais, então o simbolismo preferido de Chan-wook é o sexual: flautas fálicas que ejaculam sangue, alicates que simulam felações, mais saliva e som alto quando ela chupa o dedão dele e ele lambe o pé dela. O diretor não mede palavras nem imagens para transformar o seu padre em um vampiro clássico, movido pelo desejo, como Nosferatu - cuja gola alta, escondendo o pescoço, Sang-hyeon adota no lugar da batina.

Aquela misoginia de Chan-wook tem, então, uma funcionalidade muito clara neste conto moral, o que já não acontecia em Oldboy, por exemplo, onde era acima de tudo fetiche, morbidez e sadismo. Há muito fetiche, morbidez e sadismo em Sede de Sangue, mas desta vez estão dentro de contexto. Estão violentamente penetrados em contexto.

Leia mais críticas da Mostra 2009

Leia mais críticas do Festival do Rio 2009

Nota do Crítico
Excelente!
Sede de Sangue
Bakjwi
Sede de Sangue
Bakjwi

Ano: 2009

País: Coréia do Sul

Classificação: 16 anos

Duração: 133 min

Direção: Chan-wook Park

Elenco: Song Kang-ho, Ok-bin Kim, Kim Hae-sook, Shin Ha-kyun, Song Young-Chang, Mercedes Cabral, Eriq Ebouaney, Seo Dong-Soo, Oh Dal-Su, Park In Hwan

Onde assistir:
Oferecido por

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.