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Desaparecidos

Tranque as portas e esconda as crianças que a globalização veio te pegar

06.03.2008, às 17H00.
Atualizada em 20.01.2017, ÀS 05H03

Primo pobre de Crash e Babel, baseado em um artigo do jornal The New York Times intitulado "The Girls Next Door", Desaparecidos (Trade, 2007) é mais um filme-denúncia que nos mostra os males desse processo perverso chamado globalização, que elimina fronteiras e deixa todo mundo mais próximo de dividir uma mesma desgraça.

Os caminhos que o filme do alemão Marco Kreuzpaintner faz pelo menos são mais curtos que os de Babel - mais exatamente, 3.345km separando a capital mexicana Cidade do México de Nova Jersey, no nordeste dos EUA. Essa é a rota que o tráfico internacional de adolescentes faz entre o momento em que sequestra virgens latinas até a entrega da mercadoria, arrematada em leilão online, a pedófilos e doentes endinheirados em geral.

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O filme começa apresentando Jorge (Cesar Ramos), jovem mexicano que rouba gringos para, entre outras coisas, poder comprar uma bicicleta de aniversário para sua irmã, Adriana (Paulina Gaitan). A mãe dos dois vive dizendo que não é bom ostentar assim, ainda mais na rua - e no fim, claro, ela está certa. Adriana acaba sequestrada por russos e sua bicicleta nova fica jogada no meio da rua, momento dramático que Kreuzpaintner evidentemente registra com close na bicicleta.

Não é difícil antever o que se segue: Jorge decide investigar o caso, descobre uma rede internacional que não apenas rapta latinas como traz russas para serem comercializadas nos EUA, e põe na cabeça que perseguirá os sequestradores da sua irmã até a longínqua Nova Jersey. No caminho, vigilância de fronteira, policiais corruptos, estupradores de beira de estrada e uma infinidade de bandidos-de-aluguel.

O que faz de Desaparecidos um filme abaixo da média - frequentemente primário e constrangedor por vezes - não é o seu tema. Diante de cenas grotescas como o momento em que Adriana precisa posar como modelo aos seus possíveis compradores, o espectador pode dizer: "Bom, mas o filme só está mostrando a vida como ela é...". Não é bem assim. É possível mostrar a crueza da realidade sem se rebaixar a essa realidade, e Desaparecidos é um filme ruim porque, para se expressar, usa da mesma exploração que denuncia.

Há momentos bem filmados? Sim, particularmente a cena dos relógios no matagal (insinuação é uma ferramenta poderosa). E Kevin Kline consegue sair do filme com dignidade. De resto, Kreuzpaintner é só um aspirante a Paul Haggis, que por sua vez é só um aspirante a Alejandro Iñárritu.

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