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DVD: <i>A lista de Schindler</i>

DVD: <i>A lista de Schindler</i>

10.05.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

A lista de Schindler
Schindler´s List
EUA, 1993
Drama - 125 min.


Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Thomas Keneally (livro),
Steven Zaillian

Elenco: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes, Caroline Goodall, Jonathan Sagall, Embeth Davidtz, Malgoscha Gebel, Shmulik Levy, Mark Ivanir, Béatrice Macola, Andrzej Seweryn, Friedrich von Thun, Krzysztof Luft, Harry Nehring



De tempos em tempos os cinemas recebem filmes que atraem multidões. Grandes filas se formam, ingressos são vendidos com dias de antecedência e as rodinhas de amigos se dividem entre "os que já viram" e "os que ainda não". Foi exatamente o que aconteceu em meados de 1994, quando A Lista de Schindler (Schindler´s List, 1993) estreou no Brasil.

Lembro de passar toda uma tarde em um shopping: um intervalo de quase seis horas separava a compra do ingresso do horário da sessão. Lembro também de assistir ao desfile de rostos transtornados, com marcas de choro, que deixavam a sala de cinema minutos antes de eu entrar - o que me deixava com mais medo do que estaria por vir quando eu entrasse naquela sala escura.

O que atraía tanta gente ao cinema não eram apenas os efeitos de aplicação de cores sobre pequenos detalhes de um filme preto e branco — poucos sabiam, mas Francis Ford Coppola já os havia utilizado dez anos antes, em seu O Selvagem da Motocicleta (Rumble Fish, 1983). Na verdade, o que todos queriam conferir era o que um grande mestre da fantasia como Steven Spielberg tinha a dizer sobre um dos períodos mais duros de nossa realidade histórica, o Holocausto. Ninguém podia perder o que a imprensa dizia ser o grande filme da vida do diretor, um filme ligado à sua trajetória pessoal e à de sua família judia.

A intensidade e a crueza do relato, marcada por muitos fuzilamentos, mantinham as filas longas, semanas após a estréia. A Lista de Schindler foi um dos primeiros filmes a retratar a violência da II Guerra de maneira extremamente direta, incluindo cenas de tiros disparados contra a cabeça de judeus indefesos, cenas de crianças solitárias, à procura de esconderijos e fugindo da crueldade dos oficiais nazistas. Esta maneira de contar a história viria a influenciar as novas produções do gênero, cujo exemplo mais recente é O Pianista (The Pianist, 2002), de Roman Polanski.

História Real

O filme conta a história de Oskar Schindler (1908-1974), um antigo militar polonês, bem relacionado com a SS, que progride rapidamente nos negócios ao se apropriar de uma fábrica de panelas, após o decreto que proibia aos judeus serem proprietários de negócios.

O carisma do protagonista fica evidente logo numa das primeiras cenas em que, num salão de baile freqüentado pelos nazistas, vemos uma grande roda de mulheres e de oficiais de várias patentes se formar à sua volta. Schindler se vale de sua fortuna crescente para "comprar" membros da Gestapo e dos altos escalões nazistas com bebida, mulheres e produtos do mercado negro. Seu afiado senso de oportunidade o leva a contratar um contador judeu - mais barato do que um profissional polonês.

Ele é Itzak Stern (Ben Kingsley), a mente por trás do que seria o começo de tudo: com o argumento de que os trabalhadores judeus representavam uma lucratividade maior para o negócio, ele convence Schindler a fazer destes 100% da força de trabalho empregada em sua fábrica. Com o tempo, famílias judias passam a trocar suas reservas financeiras por postos de trabalho (que os mantém longe dos campos de concentração), permitindo que os negócios cresçam ainda mais.

A guerra avança e Hitler lança a campanha de "Solução Final", que acabaria definitivamente com os guetos, transferindo toda a população judia para os campos de concentração. Amon Goeth (Ralph Fiennes) é o comandante de um desses campos e um dos amigos mais próximos que Schindler tem entre os oficiais da Gestapo. Quando os trabalhadores de sua fábrica começam a ser transportados para o campo de Plaszow, Schindler convence Goeth a colocá-los num ambiente separado dos outros, um lugar onde ficassem mais protegidos.

Numa determinada noite, passeando perto de um dos parques de Cracóvia, Schindler assiste à invasão de um dos guetos da cidade. Numa das cenas antológicas do filme, ele observa uma garotinha de casaco vermelho que, perdida, procura um lugar para se esconder. Dias mais tarde, ele acompanha uma ida de Goeth ao campo de concentração e assiste às instruções que este recebe para cremar os cadáveres das crianças. Quando identifica o casaco vermelho em meio à pilha de corpos, Schindler está prestes a fazer sua famosa lista.

Numa cena inesquecível e empolgante, ele e o contador passam a noite a digitar os nomes das famílias que serão transportadas para a Tchecoslováquia ao invés de irem para Auschwitz. Para cada um dos 1.100 nomes que comporiam a lista, Schindler viria a pagar um boa soma de dinheiro a Goeth, que tomaria as medidas necessárias para o que o desvio de rota fosse bem sucedido. Enquanto Stern datilografa os nomes, Schindler anda de um lado para o outro, febril, fumando e gritando "Quantos temos? Precisamos de mais!".

"Aquele que salva uma vida salva o mundo inteiro"

Depois de chegarem salvos à Tchecoslováquia, os chamados "judeus de Schindler" ficam sabendo que o seu salvador foi à falência. Às custas de muitos litros de vodka, extraem dos próprios dentes as obturações de ouro que serão convertidas num anel com a inscrição acima — é a máxima demonstração de gratidão que podem dar.

O filme termina colorido, com uma visita dos "judeus de Schindler" e alguns de seus descendentes ao túmulo de Oskar Schindler. Eles adornam a sepultura com pequenas pedras, num comovente ritual judaico que simboliza a lembrança de um ente querido. O número de filhos e netos daqueles 1.100 privilegiados surge na tela, comprovando a sabedoria da frase cravada no anel.

Os extras
Por Érico Borgo

O tema do filme é delicado, portanto, os extras do DVD de A lista de Schindler desviam-se do convencional - cenas deletadas, making of, cenas de bastidores... - para dar espaço ao debate e registro histórico.

O disco de extras contém apenas 1 hora e 30 minutos de informações, divididas entre um documentário e uma propaganda institucional da Fundação de História Visual dos Sobreviventes de Shoah (Survivors of the Shoah Visual History Foundation), organização criada por Steven Spielberg para registrar, catalogar e garantir o acesso do público aos depoimentos de sobreviventes do Holocausto.

O documentário, intitulado Vozes da lista, é o grande destaque. Com 1 hora e 17 minutos, o vídeo é introduzido pelo próprio Spielberg, que explica as razões pelas quais dedicou-se ao filme e à Fundação Shoah. Fazer A lista de Schindler não só aumentou minha fé como também mudou a minha vida, pois entendi como apenas uma pessoa, não um exército mas uma pessoa, pode fazer a diferença.

Produzido com o auxílio da Fundação Shoah, Vozes da lista traz os depoimentos de judeus que sobreviveram ao Holocausto graças a Oskar Schindler. Nele, essas pessoas contam suas opiniões sobre o homem que salvou as suas vidas aproveitando-se da burocracia e ganância nazistas. O vídeo parte das declarações sobre a vida pré-Segunda Guerra, antes da Alemanha invadir a Polônia, depois explica como era a vida no violento gueto de Varsóvia. A narrativa segue para Plaslow, o campo de concentração no qual Schindler, convidado para as festas do administrador Amon Goeth, toma contato com a realidade dos judeus.

Dono de uma fábrica de panelas esmaltadas, Schindler convence os nazistas a deixarem algumas centenas de judeus viverem ao lado de sua fábrica, fora do campo de concentração. Ele alega que isso vai melhorar a produtividade da fábrica quando, na verdade, pretende apenas salvar o maior número de pessoas que conseguir, já que eles mal trabalham no local, são bem alimentados e ganham alojamentos dignos. Depois, com o avanço do exército russo, muda toda a produção para Brinnlitz, na Tchecoslováquia, onde mais uma vez consegue convencer/subornar os nazistas de que a sua mão-de-obra especializada é fundamental para o bom funcionamento das instalações. Nesse meio tempo, Schindler consegue até mesmo resgatar todas as mulheres que ele protegia de dentro do famigerado campo de concentração de Auschwitz, libertando-as da morte certa. Schindler mantém a farsa até o fim da guerra, quando distribui todo o seu estoque de tecido, para que seus protegidos possam recomeçar a vida com alguma moeda de troca.

Intenso e emocional, o documentário foi dirigido por Michael Mayhew e conta com imagens de arquivo, fotos e relatos em vídeo.

O segundo extra do DVD é A história da Shoah Foundation, uma propaganda institucional da entidade que Spielberg ajudou a criar quando percebeu que as histórias dos sobreviventes do Holocausto precisavam ser registradas o quanto antes, já que tais testemunhas da História estão desaparecendo, devido à idade avançada. No vídeo, o cineasta explica os passos pelos quais passou a instituição:

1) Corrida contra o tempo para registrar os depoimentos de sobreviventes do Holocausto. De 1994 a 1999 foram gravados cerca de 52 mil (!) relatos em vídeo na forma de entrevistas em 56 países, em 32 idiomas.

2) Indexação/Catalogação - A fim de facilitar as pesquisas, cada trecho de cada uma das entrevistas recebeu palavras-chave. No total, 120 mil horas de vídeo foram processadas.

3) Transformar sobreviventes em educadores - Conversão dos depoimentos em ferramentas educativas, como CD-Roms multimídia ou documentários para serem exibidos em escolas e feiras.

Tal esforço - que Spielberg repetiu com a minissérie Band of Brothers, na qual catalogou depoimentos de veteranos de guerra - espera compreender como o ódio e a intolerância levam às maiores atrocidades da história da humanidade e, através do ensino e conscientização dos mais jovens, evitar novos desastres dessa escala.

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