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Crítica

E aí, Comeu? | Crítica

Ah, o velho truque do canalha arrependido

21.06.2012, às 18H33.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H41

"Ele é uma criança, não entende nada", canta Gerson King Combo a letra de Erasmo Carlos num dos muitos momentos de complacência com a calhordice masculina de E aí, Comeu?. Se em Cilada.com Bruno Mazzeo já fazia o falso tipo do canalha arrependido para enganar a mulherada, no filme do diretor Felipe Joffily (Ódiquê?, Muita Calma Nessa Hora) multiplique isso por três.

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Mazzeo, Marcos Palmeira e Emilio Orciollo Netto fazem os três amigos botequeiros saídos da peça homônima de Marcelo Rubens Paiva. Eles se reúnem num bar no Rio de Janeiro para cantar vantagem, zoar uns aos outros e reclamar das mulheres; Mazzeo faz um arquiteto abandonado pela esposa (Tainá Müller), Palmeira é um jornalista que suspeita de uma traição da mulher (Dira Paes) e Orciollo é o playboy solteiro, aspirante a escritor, que sente falta de uma relação "de verdade".

Embora a publicidade do filme diga que E aí, Comeu? é a "primeira comédia verdadeira sobre o amor", a ideia de que os brutos também amam é mais velha que piada de salão (na verdade há um faroeste de 1953 com esse nome, de um tempo em que os brutos eram brutos de verdade). Então não se engane com o discurso de Joffily - os filmes todos do diretor, em diferentes grau, têm a pretensão de "mandar a real" - e, principalmente, não se deixe enganar com a suposta redenção dos três protagonistas.

(Spoilers no parágrafo seguinte.)

Afinal de contas, que tipo de redenção é essa? E aí, Comeu? parte da premissa de que Mazzeo, Palmeira e Orciollo aprendem a ser mais gentis depois de sofrerem um baque emocional, mas a solução que o filme encontra pra eles não é um elogio da complexidade feminina, e sim um reforço de estereótipos de mulher-objeto. Um fica com a "girl next door" virginal e descomplicada (ela é a alma gêmea do personagem de Mazzeo porque não vai lhe causar dores de cabeça como a alma gêmea anterior), outro se acha na mulher "brother" (a personagem de Dira Paes fuma, bebe e sabe jogar pôquer como um homem) e o terceiro realiza o velho sonho de tirar a prostituta da zona - uma demonstração não de afeto, mas de vitória.

Que a câmera de Joffily fique o tempo inteiro enquadrando o Cristo Redentor na paisagem só reforça o desejo de manter tudo como sempre-deveria-ser. E aí, Comeu? não se dispõe a reconhecer que ser homem é aceitar os mistérios das mulheres, está sim atrás de reafirmar o macho como senhor das fantasias e de botar, nestes tempos incertos, o homem de volta no seu "lugar de direito".

E aí, Comeu? | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ruim
E aí, Comeu?
E aí, Comeu?
E aí, Comeu?
E aí, Comeu?

Ano: 2012

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 102 min

Direção: Felipe Joffily

Roteiro: Marcelo Rubens Paiva

Elenco: Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Emílio Orciollo Neto, Dira Paes, Seu Jorge, Tainá Müller, Laura Neiva, Juliana Schalch

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