Em certo momento de Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida, Clara (Clarice Falcão) faz um vídeo para concorrer a uma vaga no Big Brother Brasil. Como principal característica, a protagonista cita sua falta de personalidade. Esta afirmação pode ser estendida a todo o filme de extenso nome. O segundo longa de Matheus Souza (Apenas o Fim) peca por não encontrar a própria identidade.
eu-nao-faco
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Clara vem de uma família de médicos e decide cursar Medicina por comodismo puro. Desde o primeiro dia de estudos, sabe que não deseja seguir aquela carreira. Começa, então, a matar aula. Em uma série de idas solitárias ao boliche, conhece Guilherme (Rodrigo Pandolfo). Empregado do próprio pai, ele é tão acomodado quanto a garota indecisa. Juntos, os dois passam manhãs filosofando sobre os rumos da vida.
Para decidir sua nova carreira, a garota passa a fazer coisas que remetam a diferentes profissões - embora em uma visão simplista ao extremo. Para descobrir se deve cursar Direito, na ingenuidade de Clara e Gui, a pessoa deve mentir. Para Arquitetura? Uma casa na árvore. Para Medicina? Oferecer ajuda aos outros. Para Jornalismo? Tomar café-da-manhã em vários hotéis.
Pelo menos, a peregrinação por desjejuns traz alguns dos melhores momentos do filme. É no café-da-manhã que Clara encarna a Amélie Poulain, ouve os problemas dos parentes médicos e tenta ajudá-los. A cena em que a garota dá um videogame ao tio deprimido (Augusto Madeira) é leve e engraçada. Gregório Duvivier, que também vive um tio, faz uma boa e breve participação.
Daniel Filho, um avô abandonado pela família, interpreta bem, mas não tem um texto à sua altura. Um discurso de arrependimento como aquele não deve ser tão direto, sem pausas para considerações. O que chama atenção é como Clarice Falcão parece desconfortável ao atuar. Talvez seja uma vontade excessiva de demonstrar naturalidade, mas o resultado final é uma personagem blasé e sem graça.
O filme é tudo que, em alguns momentos, tenta (ou finge) criticar. Clara diz que "é muito difícil ser blasé", mas suas ideias são o senso comum de quem quer ser considerado inteligente. Quando está pensativa, decidindo se deve cursar Filosofia, a garota diz que fez uma dieta na semana anterior (todas as cenas anteriores a mostraram comendo croissants no café-da-manhã, mas tudo bem). Chega, então, à brilhante conclusão de que é melhor morrer cedo comendo o que der na telha do que viver mais e não aproveitar a gastronomia. As filosofias de Clara são todas assim: não desafiam nenhuma lógica pré-estabelecida, mas se apresentam como moderninhas e revolucionárias.
Sem apresentar nada de único que não seja pedante, Clara é uma personagem difícil de ser amada. Seu romance com Gui não tem química alguma. Por mais que tenha alguns momentos doces e divertidos, Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida parece não saber fazer com que o espectador se importe.
Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida | Cinemas e Horários
Ano: 2013
País: Brasil
Classificação: 10 anos
Duração: 90 min
Direção: Matheus Souza
Elenco: Clarice Falcão, Rodrigo Pandolfo, Leandro Hassum, Daniel Filho, Nelson Freitas
