Filmes

Artigo

<i>11 de setembro</i> - Os curtas-metragens

<i>11 de setembro</i> - Os curtas-metragens

30.11.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H13

Samira Makhmalbaf



Danis Tanovic


Mira Nair

Sean Penn

Shohei Imamura

Enquanto os atentados de 11 de setembro de 2001, contra as torres gêmeas de Nova York, não se transformam em um épico dramático de Hollywood, com direito a galãs no papel de bombeiros, vale atentar para os documentários e filmes de ficção que dissecam o assunto com postura crítica. Na segunda categoria, se encaixa a produção franco-britânica 11 de Setembro (1109"01, 2002) e seu formato provocativo. Onze diretores mundialmente consagrados ganharam US$ 400.000,00 cada, mais liberdade criativa, para criar sua visão da tragédia, num espaço de exatos onze minutos, nove segundos e um frame.

A película divide cada episódio com uma animação, que mostra o globo terrestre e o país de cada um dos realizadores. Samira Makhmalbaf, do Irã, inicia a série com a história de uma professora em seu país, na tentativa de explicar o episódio para alunos de primário, que, em sua miséria, sequer sabem o que significa uma "torre".

Youssef Chahine, do Egito, alia nacionalidades em um diálogo surreal, entre o espírito de um fuzileiro naval norte-americano, morto num atentado de 1983 em Beirute, e um homem-bomba palestino.

Danis Tanovic, da Bósnia-Herzegovina, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por Terra de Ninguém (No Mans Land, de 2001), cria um paralelo das famílias destruídas no atentado com a história dolorida das mulheres que perderam maridos e filhos na guerra que estilhaçou a ex-Iugoslávia.

O curta mais polêmico fica a cargo de Ken Loach, do Reino Unido, um diretor sempre engajado. Ele narra, com imagens de arquivo, outra tragédia que ocorreu em um 11 de setembro, mas em 1973, no Chile. Na ocasião, o sangrento golpe militar de Augusto Pinochet, financiado pelos EUA, culminou no assassinato de Salvador Allende (1908-1973) - e de pelo menos 30 mil civis nos anos que se seguiram. Enquanto os aviões comerciais se chocam contra o WTC, aviões militares bombardeiam a capital do Chile.

Por sua vez, o mexicano Alejandro González Iñarritu, de Amores Brutos (Amores Perros, 2000), procura o caminho do impacto, com uma tela escura cortada por trechos velozes de pessoas se jogando das janelas dos edifícios. Enquanto a tela fica vazia, fica a voz dos sobreviventes, em ligações telefônicas angustiadas aos seus familiares.

Mira Nair, da Índia, diretora do sensível Casamento à Indiana (Monsoon Wedding, 2001), reage contra a atual xenofobia norte-americana em relação aos asiáticos. Narra a história de Mohammed Salman Hamdani, paquistanês radicado nos EUA, que morreu entre os escombros. Primeiro foi identificado como terrorista, a família sofre represálias em sua própria vizinhança, só depois acaba reconhecido como herói que salvou diversas pessoas no local.

Sean Penn, o único norte-americano do grupo, não se esquiva do tom crítico. Mas, ao invés do patriotismo, assume a poesia - um velho solitário, que não aceita a morte da esposa, assiste à nova mudança em sua vida quando os edifícios caem à frente de sua janela.

Claude Lelouch, da França, também se mostra sensível. Mostra a história de uma moça surda-muda, que termina de maneira dramática o seu namoro, na mesma manhã dos atentados.

Um certo tom humorístico marca a passagem de Idrissa Quedrago, de Burkina Fasso. Ele exibe cinco garotos africanos que julgam ter reconhecido Osama Bin Laden na rua e se esforçam para capturá-lo e, assim, receber a recompensa de US$ 25 milhões.

Amos Gitai, de Israel, também usa a ironia, ao exibir uma irritante repórter televisiva que, durante o resgate de vítimas em um atentado à bomba em Israel, não entende porque não entra no ar.

Por fim, Shohei Imamura, do Japão, com sua genuína inspiração fantástica, frisa que "nenhuma guerra é santa": exibe um soldado japonês que, após o final da II Guerra Mundial, começa a se comportar (ou seja, rastejar) como uma serpente.

Um final precioso para um conjunto irregular, como qualquer coletânea, mas ainda assim bem instigante. Nos Estados Unidos de George W. Bush, porém, o filme foi escorraçado pela crítica, acusando os diretores de anti-americanos e, até, de coniventes com o terrorismo. Uma pena. Neste momento, a reflexão é mais importante do que a cegueira ufanista ou a vingança bélica.

Leia mais sobre o impacto dos atentados de 11/09/01 no mundo pop

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.