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A Cartomante | Crítica

<i>A cartomante</i>

29.01.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

A cartomante
Brasil, 2004 - 90 min.
Romance/Suspense

Direção: Wagner de Assis e
Pablo Uranga
Roteiro: Wagner de Assis

Elenco: Giovanna Antonelli, Luigi Baricelli, Deborah Secco, Sílvia Pfeifer, Ilya São Paulo, Mel Lisboa

Seria fácil desmoralizar A Cartomante (2004) com um par de frases. Isso porque a história dirigida por Wagner de Assis (roteirista de Xuxa e os duendes 1 e 2) e Pablo Uranga (aquele, o Léo da primeira fase de Malhação) sofre com os seus defeitos evidentes: a caracterização rasa dos personagens e a obviedade das situações.

Trata-se de um triângulo amoroso entre o médico Vilela (Ilya São Paulo, esse mesmo, o Jerônimo Coragem do remake da novela global), a balconista Rita (Deborah Secco) e o garotão Camilo (Luigi Barricelli), temperado pelas previsões da mística do título e de uma psicóloga, Dr. Antonia, vivida por Silvia Pfeifer. Vilela, noivo de Rita, salvou a vida de Camilo, mas não conseguiu impedir que esse se apaixonasse por sua meninota.

Por que seria fácil? Ora, não há suspense algum quando o amor de uma jovem indecisa balança entre o noivado com o workaholic possessivo destemperado e o amor arrasador pelo bonitão malhado com carência afetiva. Fica óbvio quem ganhará Rita no final, por mais que a cartomante receite o contrário - e isso implode o filme já na sua premissa. Precisa dizer algo mais?

Precisa, principalmente porque nem mil argumentos seriam suficientes para explicar o fenômeno Cartomante, um marco da ruindade no cinema brasileiro, inferior a muitas pérolas xuxianas. Como cantaria qualquer astro brega, "me faltam palavras".

Miojo do amor

Desde o figurino clubber de Luigi Barricelli até a trilha sonora empastelada, tudo contribui para arruinar a película. O fato dos realizadores reivindicarem a livre inspiração no famoso conto de Machado de Assis só torna a empreitada mais vergonhosa. As cenas que os dois doutores dividem no hospital são dignas de sátira de Plantão Médico. Já as caras e bocas de Rita deixam Reneé "Bico de Pato" Zellweger no chinelo. É sério! Deborah Secco institui uma espécie de "gemido de dúvida" para marcar os seus momentos de introspecção. E a pretensiosa pseudofilosofia explícita no final, depois de uma série de reviravoltas sem sentido, sela o caixão com vedação inviolável.

Só vendo para acreditar.

Mas como o circuito oferece opções nacionais bem mais qualificadas, tempo é precioso e ingressos não são baratos, o Omelete dá uma boa idéia do que (não) esperar do filme. Aqui vai a transcrição de duas cenas singulares, representativas, tradução da intraduzível magia de A Cartomante.

Cena 1: casa de Vilela. O médico janta com Rita, que prepara a comida. A moça serve uma vasilha enorme de... miojo com molho de tomate. Vilela prova, não disfarça o incômodo, e dispara: "Puxa, Rita, nem o miojo você acerta?". Em meio às risadas, chega Camilo, para agradecer a Vilela (que lhe salvou a vida, lembra?). Então, Vilela convida Camilo para ficar, jantar. Rola aquele promissor contato visual. Embaraçada, sem jeito, Rita serve o lámen para o rapaz. Camilo prova, finge que gosta, mas já está inevitavelmente envolvido. A paixão por Rita é fulminante.

Cena 2: refeitório do hospital. Vilela se encontra com Antonia. O médico diz que o casamento com Rita só depende da sua promoção a diretor, mas frisa que a balconista se mostra hesitante. A psicóloga revela que conhece as fragilidades de Rita, já que a moça se tornou sua paciente. Vilela já não simpatizava muito com a doutora - a notícia o deixa mais irritado. "Como assim? Ela não me pediu permissão". "Ora, Vilela, esse é um assunto confidencial, relação médico-paciente". "Pois você está PROIBIDA de ajudá-la", berra o médico sem aparente razão. Antonia faz que não ouve, dá de ombros e sai. Vilela, visivelmente alterado, então se descontrola: espreme o copinho plástico que tem entre os seus dedos, fazendo verter todo o café por sua mão. Repare, não é o tipo clássico de ira, quando o sujeito quebra um copo grosso de vidro ou esfarela uma rocha. Vilela desconta sua raiva num mísero copinho de café.

E olha que são apenas dois exemplos, entre vários. Trash no último, deu pra entender?

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