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As Invasões Bárbaras | Crítica

<i>As invasões bárbaras</i>

30.10.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

As invasões bárbaras
Les invasions barbares

Canadá/França, 2003
Comédia/Drama - 111 min

Direção: Denys Arcand
Roteiro: Denys Arcand


Elenco: Rémy Girard, Stéphane Rousseau, Dorothée Berryman, Louise Portal, Dominique Michel, Yves Jacques, Pierre Curzi, Marie-Josée Croze, Marina Hands

Os filmes simples são os melhores. Nada de floreio, trilogia, invencionice digital, narrativa de trás pra frente. Fazer um filme simples (não confunda com simplista) é dificílimo, e por isso eles são os melhores. Sofia Coppola, por exemplo, alcançou a simplicidade com Encontros e desencontros (Lost in translation, 2003). Aguarde o Oscar 2004 e você verá. Acontece que o canadense Denys Arcand fez melhor.

O seu As invasões bárbaras (Les invasions barbares, 2003) parte de um clichê batido - os últimos dias de um pai que se acerta com a família e o passado - e o desconstrói. Adiciona referência políticas e culturais, faz uma bem humorada crônica da modernidade e, de quebra, exorciza os fantasmas de toda uma geração (a sua própria). Tudo isso sem esquecer a simplicidade, também conhecida como modéstia. As invasões bárbaras ganhou em Cannes o prêmio de melhor roteiro e melhor atriz para Marie-Josée Croze.

Na trama, os mesmos personagens de O declínio do império americano (Le Déclin de lempire américain, 1986), o filme mais famoso do diretor, se reúnem quinze anos depois. O professor de história Rémy (Rémy Girard, irretocável) sofre de câncer num hospital lotado de Quebec. A sua ex-mulher, Louise (Dorothée Berryman), apesar das infidelidades do marido, fica ao seu lado. Ela até consegue chamar de volta ao Canadá o filho do casal, Sébastien (Stéphane Rousseau). Com o reencontro, renasce o conflito. Conquistador incansável, típico intelectual idealista dos anos 60, o pai é o contrário do filho, noivo fiel, pragmático, de futuro financeiro promissor no mercado acionista de Londres.

Aparentemente previsível, a lavagem de roupa suja não tem nada de banal. O filme nunca parece nostálgico demais com os anos 60, nem ranzinza em demasia com os 90. Num momento, por exemplo, Rémy é obrigado a conversar com a sua filha pela tela impessoal de um computador, já que ela vive num veleiro pelo Pacífico. A tecnologia é fria, mas ajuda. Em outro, os ex-alunos de Rémy são pagos por Sébastien para visitar o ex-professor no hospital. O artifício é reprovável, mas o doente não sabe do embuste e acaba comovido. São toques sutis, cheios de ambiguidades, que fazem o filme ser especial. Essa é a palavra: sutileza.

Com o avanço da projeção, o título se auto-explica. Bárbaros são aqueles que invadem a globalização com a sua cultura ultrapassada. Nesse equilíbrio, Arcand realiza a emocionante releitura de erros passados, à procura de acertos presentes, sempre de maneira sóbria. Você percebe que um filme dramático é diferente dos demais, único no mundo, quando a indução ao choro acontece não de modo ostensivo, mas apenas no clímax final - e o espectador não se sente um boneco de emoções manipuladas.

Uma pessoa só faz um filme assim depois de ter vivido bastante, lá pelos cinquenta de idade. Já o público deveria assisti-lo por toda uma vida, em intervalos de cinco anos, no mínimo. Arcand (que aparece na tela como o homem que devolve o laptop a Sébastien) fez 62 em 2003 e ainda tem uma bela vida pela frente.

Nota do Crítico
Excelente!
As Invasões Bárbaras
Les Invasions Barbares
As Invasões Bárbaras
Les Invasions Barbares

Ano: 2003

País: Canadá, França

Classificação: 18 anos

Duração: 112 min

Direção: Denys Arcand

Elenco: Rémy Girard, Stéphane Rousseau, Dorothée Berryman, Louise Portal, Dominique Michel, Pierre Curzi, Yves Jacques, Marina Hands, Sophie Lorain, Johanne-Marie Tremblay, Mitsou Gelinas

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