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Explosões, muita poeira, gritaria e tiros à queima roupa. Mortes desnecessárias de pessoas que não queriam estar ali. A guerra nunca termina. Não no cinema. Desta vez, a escolhida foi a Guerra Civil norte-americana, conhecida como Guerra da Secessão. O conflito estourou em 1861, quando o sul dos Estados Unidos clamava por sua independência. O povo do norte, os ianques, não apenas negava este direito de se formar um novo país como brigava também para a libertação dos escravos, que trabalhavam nos campos de algodão e tabaco sulistas.
Num vilarejo conhecido como Cold Mountain, homens de diferentes idades e profissões são convocados para o combate. Na hora de dizer adeus, o carpinteiro W.P. Inman (Jude Law) dá um beijo em Ada Monroe (Nicole Kidman), filha do reverendo da cidade (Donald Sutherland). Vinda da distante Charlestone, Ada chama a atenção de todos pela sua beleza contrastante, mas acaba se apaixonando pelo tímido Inman. E é assim, com a troca de algumas poucas palavras e uma calorosa despedida, que os dois se comprometem para o resto de suas vidas.
Nas trincheiras, ele leva tiros e também mata para poder sobreviver, sonhando em rever sua amada algum dia. Enquanto isso, na sua fazenda, Ada sofre com a miséria proveniente de qualquer guerra. Criada desde pequena por seu pai viúvo, ela não sabe fazer nenhum trabalho doméstico. Nos dias em que sua esperança está prestes a acabar, chega Ruby (Renée Zellweger), uma garota durona, do tipo gente que faz, mas que se derrete como neve no verão nas horas em que o coração fala mais alto que a razão.
Acima da média
O diretor Anthony Minghella (O paciente inglês, 1996) reuniu um dos elencos mais invejáveis da história do cinema recente e extraiu deles atuações de alto nível. Nicole Kidman tirou o nariz postiço de As horas e não foi indicada ao Oscar deste ano, mas a barba longa de Jude Law e as caras e bocas de Renée Zellweger estarão competindo lá no Kodak Theater. Zellweger, aliás, finalmente volta a brilhar de verdade, algo que não fazia desde O diário de Bridget Jones. Quem também está ótimo é o sempre acima da média Philip Seymor Hoffman, no papel de um reverendo. Giovani Ribisi é outro que tem papel pequeno, mas muito bem interpretado. Surpreendente é a participação de Natalie Portman, irreconhecível como mãe solitária de um bebê doente numa cabana isolada do mundo. Até mesmo a estréia de Jack White (guitarrista do White Stripes) - rapidíssima, é verdade - vale a pena.
O que também enche os olhos são as belíssimas paisagens gravadas na Romênia, que simula as montanhas da Carolina do Norte. Resultado de uma fotografia linda, que aliás disputa o Oscar com Cidade de Deus. Fazendo sua parte, a trilha sonora pontua e ajuda a acentuar a dramática caminhada de Inman de volta para casa e a espera sem fim de Ada. O amor os motiva a continuar seguindo em frente, mesmo quando parece não haver saída.
Mas não se deixe enganar, Cold Mountain, que foi baseada no livro homônimo escrito por Charlies Frazier, não é uma simples história de amor. Primeiro porque os dois protagonistas estão a maior parte do tempo separados, mas principalmente porque, como aprenderá Ada Monroe, só o amor não é suficiente para sobreviver num mundo tão duro. Muita gente, porém, pode sair deste novo filme de Minghella decepcionada. Mas os que não ligarem para o ligeiramente contraditório desfecho entenderão porque o filme foi considerado um dos melhores do ano passado.