Filmes

Crítica

Maria Mãe do Filho de Deus | Crítica

Não passa vergonha, mas passa longe de ser original e contagiante

09.10.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

Marcelo Mendonça Rossi, padre, ícone da Renovação Carismática católica, astro de TV, animador e cantor, agora se aventura no cinema.

Associado à Sony, à Columbia e à produtora de Diler Trindade, financiador habitual dos filmes de Xuxa, ele amealhou R$ 6 milhões para concretizar Maria, mãe do filho de Deus (2003), do diretor Moacyr Góes (Dom). Pretende, assim, em suas próprias palavras, realizar algo original e de grande força evangelizadora. Como é dever do crítico julgar se as pretensões se equiparam aos resultados, vejamos se o filme é forte e original.

Transcorrem duas tramas paralelas. Na primeira, no sertão dos dias atuais, Maria Auxiliadora (Giovanna Antonelli) deixa a sua filha Joana (Ana Beatriz Cisneiros) aos cuidados do pároco local (Rossi), enquanto corre, aflita, para buscar um importante diagnóstico médico da menina. Para entreter Joana, o padre decide lhe contar a história de Nossa Senhora. Assim, a segunda trama, desdobramento da primeira, relembra os dias bíblicos de Maria (também Giovanna), desde a visita do Arcanjo Gabriel (também Rossi), passando pelo nascimento de Jesus (Luigi Baricelli), até a ressurreição de Cristo.

Antes da análise, um aviso aos fãs do trash: o padre Marcelo pouco aparece, não há pontas constrangedoras de astros da TV, nem a reconstituição histórica beira a tosquice.

Tecnicamente admirável, com lindas locações, direção de arte razoável e fotografia competente, Maria faz jus ao dinheiro gasto. Portanto, não se trata de uma bomba de humor involuntário. Pelo contrário, os problemas narrativos do filme são profundos - mais graves do que meros detalhes como a evidente inépcia de Rossi, que se limita a interpretar um anjo e um ser humano de idêntica maneira.

Para começar, a questão da originalidade.

Auto-proclamado o primeiro enfoque do calvário segundo a ótica de Maria - no qual Dom Fernando Figueiredo, superior de Rossi, exerce o papel de consultor teológico -, o filme promove uma releitura meia-sola.

Na Bíblia, Maria é menosprezada à medida que cresce a importância de Jesus. O roteiro do filme acompanha a tendência e não se arrisca numa reescrita mais corajosa. Destaca-se, assim, o talento de Giovanna para verter lágrimas. A sua participação resume-se, em boa parte das cenas, a exclamar Não me deixe sozinha, meu filho. É pouco para quem proclama uma real novidade e uma homenagem à Nossa Senhora.

Na verdade, o filme é um tour ligeiro de milagres: gravidez assexuada, água transformada em vinho, multiplicação de peixes, o ressucitar de Lázaro, etc.

Vem à tona, assim, a segunda citada pretensão: o potencial catequizante.

Afinal, a grande questão aqui é a guerra por audiência e por fiéis contra as igrejas evangélicas. E apesar da embalagem caprichada e das canções emocionantes de Rossi (presentes no providencial CD da trilha sonora), Maria novamente fraqueja.

O drama da menina doente do sertão, que aproximaria o filme da contemporaneidade, é pouco trabalhado, os diálogos são banais. Quando a narrativa se concentra nos dias de hoje, destaca-se a voz estridente de Joana ou as participações dispensáveis de, por exemplo, os pais do padre Marcelo.

Vale frisar que doutrina não exclui qualidade artística.

Sergei Eisenstein (1898-1948) fez o público se comover com a causa socialista dos seus marinheiros insurretos. Nem por isso Encouraçado Potemkin (1925) deixa de ser um dos pilares do cinema. O problema de Maria é que a missa didática não veio acompanhada de boa arte, mas de música excessiva e montagem equivocada. Aliás, se o filme chega a empolgar em algum momento, deve-se à boa literatura presente na Bíblia. Se dependesse da invenção de novo roteiro, novos diálogos e novos personagens, o resultado seria bem mais apocalíptico.

Nota do Crítico
Regular
Maria
Mary
Maria
Mary

Ano: 2005

País: Itália, França, EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 83 min

Direção: Calin Peter Netzer

Roteiro: Gordan Mimic, Calin Peter Netzer

Elenco: Diana Dumbrava, Horatiu Malaele, Serban Ionescu, Luminita Gheorghiu, Rona Hartner, Florin Calinescu, Florin Zamfirescu, Ana Ularu

Onde assistir:
Oferecido por

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.