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Infância Roubada

Vencedor do Oscar 2006 se apóia na culpa ocidental pelo abandono da África

06.06.2007, às 15H00.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 14H04

O ambiente urbano, o lado sujo da metrópole, o choque de classes, o rap da trilha sonora... Tudo no início de Infância Roubada (Tsotsi, 2005) leva a crer que aquela história ambientada na periferia de Johannesburgo, na África do Sul, poderia se passar em qualquer lugar no mundo - pelo menos em qualquer lugar onde o caos e a violência se tornaram hábito.

Seria um alívio, diante de tantos outros vencedores do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro que exportam exotismo para gringo ver, assistir a uma trama universal. A fórmula de Tsotsi, porém, é mais ardilosa: cutucar no resto do Ocidente o sentimento de culpa pelo abandono da África. E deve ter sido por isso que o diretor Gavin Hood levou o careca dourado da categoria em 2006.

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Tsotsi é o apelido de um jovem (Presley Chweneyagae) revoltado com a vida. Foi a sua infância que o determinismo social levou. Hoje Tsotsi lidera um quarteto que faz assaltos no metrô e bebe desocupadamente na favela. Um dia, porém, ao fugir de uma briga de bar, ele vai parar na vizinhança endinheirada da cidade. Tenta roubar um carro e acaba atirando na motorista. No banco de trás há um bebê, que no meio do desespero Tsotsi acaba levando consigo.

Com 20 minutos de filme não precisa ser um gênio para saber como ele vai terminar. Previsibilidade, além das lições de moral, é outro quesito que vale pontos numa premiação que nivela por baixo como o Oscar. Evidente que Tsotsi espelhará no bebê a infância que não teve, e dessa experiência tirará não só o acerto de contas com o passado como a merecida redenção.

Hood não pega leve - se ele tem uma qualidade é ir no fundo no que propõe - e mostra como a inépcia de Tsotsi coloca em risco o bebê. Os momentos dos dois, a sós, costuma propiciar alívios cômicos em produções mais amenas, mas humor não é a praia de Infância Roubada. É o tom de gravidade, aliado a relações de causa e efeito das mais brutas, que acompanha a narrativa. Se é para denunciar mazelas, o filme parece dizer, que se denuncie em voz alta.

Quem aprecia obras mais sofisticadas - não no sentido de afetação, mas de aprimoramento - que não recorrem a soluções dramáticas fáceis, pode se decepcionar (um diretor mais sutil, por exemplo, não verbalizaria a questão do caráter, mas a deixaria implícita). Quem gosta de alimentar pesos na consciência - e não necessariamente expurgá-los, já que sempre há a polícia pronta a lidar com os males que nós não resolvemos como sociedade - terá um filme-panfleto completo.

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