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Viva voz é o terceiro filme de Paulo Morelli (depois do curta Lápide e do épico O preço da luz), mas é o primeiro a ganhar o circuito comercial de cinemas. Um dos motivos deste súbito interesse pelo arquiteto que virou diretor de propagandas - e depois cineasta - é simples: Cidade de Deus (2002). Morelli é um dos sócios do diretor Fernando Meirelles na produtora O2 e este é o primeiro produto pós-CDD lançado pela empresa.
Logo no início, a apresentação dos créditos e a música, meio eletrônica, mostram que se trata de um filme moderno, antenado. Dá para notar também que a técnica de fotografia e, principalmente, de montagem estão acima do que normalmente se vê por aí. Os efeitos especiais, idem. Um bom exemplo disso tudo é o acidente que matou o irmão de Duda (Dan Stulbach) e transformou o protagonista em uma pessoa insegura, mas que agora está prestes a mudar sua vida.
Uma das coisas que ele está (quase) decidido a fazer é terminar seu caso com Karina (Graziella Moretto) e é nesse momento que seus problemas começam: enquanto ela - literalmente - sobe em cima do seu Picoco, acidentalmente aperta a tecla que liga do celular dele para o telefone da esposa traída, que escuta toda a conversa dos dois amantes e os acompanha, pelo viva voz, até o seu furtivo encontro final. Muita coisa vai acontecer. Traição, roubo, paixão à primeira vista e, como já dá para prever, muitas reviravoltas na trama.
O texto é cheio de duplos sentidos - alguns bem engraçados - que funcionam muito bem neste telefone sem fio costurado por Márcio Alemão, roteirista que fez parte das equipes que escreveram para o TV Pirata (1988-1990), Comédia da vida privada (1994-1997) e Sai de Baixo (1196-2002), entre outros. Os diálogos entre os detetives interpretados por Ernani Moraes e Paulo Gorgulho, por exemplo, têm um clima tarantinesco. Pena que a piada é recontada inúmeras vezes e sua força acaba diminuída depois de um tempo.
A construção dos personagens é outro ponto forte. Com a ajuda do diretor, os atores souberam montar de forma bastante caricata os papéis, que se tornaram ao mesmo tempo irreais e carismáticos. É o caso por exemplo da dupla de assaltantes formada pelo engenheiro de computação Monstro (Fábio Herford) e seu comparsa dentista Alicate (Otávio Martins) - inofensivos e patéticos. Afinal, quem não gostaria de encontrar um bandido que te seqüestrasse, levasse até um caixa eletrônico, hackeasse o banco, não tirasse nada da sua conta e ainda te desse um troquinho?
Mas o filme não tem só pontos positivos. Pelo menos na cópia exibida à imprensa havia um leve, mas perceptível, atraso na sincronia labial. Se descartarmos isso e a presença de personagens clichês (como a bichinha afetada, a mulher patricinha, etc.), a diversão é quase garantida. Quase? Sim, é preciso fazer vista grossa para detalhes como celulares de bateria eterna, pessoas que andam sem cinto de segurança mesmo depois de perder o irmão num acidente de carro, bancos que deixam errar a senha várias vezes sem bloquear o acesso, etc... Enfim, vale relaxar e aproveitar!
Ano: 2004
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Duração: 87 min
Direção: Paulo Morelli
Roteiro: Paulo Morelli
Elenco: Vivianne Pasmanter, Betty Gofman, Dan Stulbach