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Lady Jane

O passado volta a assombrar os personagens deste drama policial sobre vingança

26.06.2008, às 16H00.
Atualizada em 05.01.2017, ÀS 06H12

Assim como em seu filme anterior, Armênia (2006), o roteirista e diretor francês Robert Guédiguian sofre em Lady Jane de falta de foco. Depois de um começo atmosférico, nuançado, com boas promessas de mistério, o filme termina cumprindo pouco do que sugeriu.

Somos apresentados à trama primeiro e conhecemos melhor os personagens depois. Muriel (Ariane Ascaride), dona de uma loja de perfumes em Marselha, recebe um telefonema do celular do seu filho adolescente. Ele foi sequestrado, o pedido de resgate é alto. Muriel não tem escolha a não ser contatar dois velhos conhecidos para ajudá-la a reunir a quantia.

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É aí que começamos a entender quem são Muriel e os dois amigos, o dono de boate René (Gérard Meylan) e o consertador de barcos François (Jean-Pierre Darroussin, de Conversas com meu Jardineiro). O sequestro do filho dela não é o que se pensa. Algo que o trio fez no passado está voltando agora para assombrá-los.

É uma espécie de conflito de gerações que interessa a Guédiguian: contrapor os excessos dos anos 70 - Lady Jane, apelido de Muriel, é uma menção à música dos Rolling Stones - à ressaca moral dos anos 2000. Neste começo de filme, acompanhamos como o tempo erodiu os anseios de Muriel, René e François. Em visita à velha vizinhança armênia onde eles viveram juntos, o trio encontra hoje moradores que não se lembram mais dos gloriosos feitos dos anos 70.

O problema a partir da metade do filme é que Guédiguian vai escanteando esses comentários de contexto e se concentra na lição de moral: a lição que o sequestrador está tentando aplicar em Muriel, a velha história de que vingança só leva a mais vingança (e que o diretor ainda reforça com um dispensável provérbio nos créditos finais). A pequenina Ascaride, esposa de Guédiguian, se esforça, mas não aguenta o tranco. Faltam-lhe expressões para dar conta do pesadelo de culpa, sofrimento e arrependimento pelo qual passa a personagem.

E o confronto final, de uma teatralidade de gestos ensaiados e marcações cênicas que não casa com o restante low profile do filme, não satisfaz.

Entre as promessas de bom suspense que o diretor havia ensaiado antes, há de se destacar uma, a forma como ele faz de seu trio de protagonistas não personagens intangíveis, mas gente-como-a-gente. Guédiguian filma situações tensas tendo em mente que aquelas situações poderiam invadir a rotina de qualquer um - então, na hora em que Muriel vê no celular que seu filho tem na cabeça um revólver, a música que toca ao fundo é a mesma orquestração amena que tocava antes. Mesmo no clímax dá para ouvir os pássaros cantando ao fundo.

Em outras palavras, não há um esforço em hiperdramatizar a cena (o que, em teoria, nos deixa mais aflitos pela casualidade, quase gratuidade, com que essa tensão se dá). Também por isso parecem tão fora de lugar os momentos de teatralidade de Lady Jane. Guédiguian se esmera em construir personagens próximos de nós, personagens esses inseridos em um tempo e um espaço muito bem definidos, mas na hora de desatar a trama ele se rende ao artificialismo de uma lição de moral.

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