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Liverpool | Crítica

O cinema minimalista de Lisandro Alonso

29.09.2008, às 17H00.

Não dá pra ficar mais minimalista do que Liverpool (2008). O cineasta argentino Lisandro Alonso, que tem batido cartão em Cannes com filmes como La Libertad, Los Muertos e Fantasma, é adepto do cinema que reduz a trama dramaticamente, eliminando ao máximo relações de causa e efeito - em teoria, para aproximar mais suas histórias da complexidade da nossa vida, onde nada se resolve com finais felizes.

No caso de Liverpool - título que não convém explicar, porque entra na categoria "rosebud" de spoilers - a premissa se resume a duas linhas de diálogo. Operário de máquinas em um navio cargueiro no sul da Argentina, Farrel (Juan Fernández) pede dispensa ao capitão antes de aportarem em Ushuaia. "Nasci nesta região", diz ele, "e queria saber se minha mãe ainda está viva". O capitão responde que Farrel precisa voltar em dois dias, quando o navio parte novamente. E é só.

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A idéia em Liverpool é que as imagens forneçam os dados de que o espectador precisa. A tripulação do navio é toda de homens, o que se percebe pelos pôsteres eróticos nas paredes. Ali se bebe mate, joga-se PlayStation para distrair. Quando Farrel se prepara para desembarcar, tira seu macacão vermelho imundo e não deixa nenhum objeto pessoal para trás. A garrafa de vodka vai enfiada na mochila. Neva e faz frio demais, a bebida deve aquecer bem.

Mas sempre que decide dar uma bicada da garrafa, Farrel se esconde num canto, olha para os lados desconfiado... O que pode haver de errado com Farrel? Alonso não responde - aliás, ele não responde nada, confiante no senso de percepção do espectador -, apenas reserva alguns close-ups estratégicos, quando o personagem está sozinho no convés olhando o horizonte, por exemplo. Há um sentido dramático sendo construído ali, pela forma como a câmera se aproxima ou se afasta, ainda que seja um sentido imperceptível para os padrões a que estamos acostumados.

Seguimos acompanhando a volta do personagem para sua casa. O cenário se funde com o grisalho precoce Farrel, árvores secas dividindo o céu branco acima e a neve branca abaixo. Em Ushuaia, o restaurante do porto tem como papel-de-parede uma paisagem de folhagem verde e laranja. Na região joga-se carteado para matar o tempo, bebe-se vinho em caixas longa-vida, caça-se com armadilhas para raposas e a comunicação é feita por rádio.

Ushuaia está congelada no tempo, cercada de branco por todos os lados (o que só deixa o minimalismo mais agudo), mas, antes de mais nada, é assim que a enxergamos. Liverpool em si será um filme diferente para cada pessoa que o vê. É tudo uma questão de referencial. Quando Farrel chega em casa, sua velha mãe não o reconhece: "Vejo tanta gente por aqui...", diz ela, mesmo que nós, ali, não vejamos praticamente ninguém.

Nota do Crítico
Excelente!
Liverpool
Capital One Cup: Chelsea vs Liverpool
Liverpool
Capital One Cup: Chelsea vs Liverpool

Ano: 2008

País: Argentina

Classificação: 14 anos

Duração: 84 min

Direção: Lisandro Alonso

Roteiro: Lisandro Alonso

Onde assistir:
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