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Luz Silenciosa

Finalmente o público pode conferir o trabalho do cineasta mexicano que divide a crítica

22.05.2008, às 13H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H36

A exemplo do seu conterrâneo Alejandro González Iñárritu, o cineasta mexicano Carlos Reygadas não é uma unanimidade entre os críticos. Iñárritu endeusa Reygadas, que já coleciona alguns prêmios em festivais, mas muita gente torce o nariz para seus três filmes: Japón (2002), Batalha no Céu (2005) e Luz Silenciosa (2007). Com a estréia deste último, o primeiro Reygadas a sair comercialmente no Brasil, finalmente o público do circuito vai poder tirar suas próprias conclusões.

Ao contrário de Japón e Batalha no Céu, não há provocações ou escatologias em Luz Silenciosa. Na verdade, no seu terceiro filme, Reygadas reduz consideravelmente o esforço para se conectar com o espectador. Desde o momento em que o filme abre com um nascer do sol quase em tempo real, passando pelos primeiros close-ups por rostos sem expressão, é do público que se exige interesse e atenção para imergir na experiência.

Acompanhamos o café da manhã de uma família de feições européias que fala um dialeto entre o alemão e o holandês. A exposição é mínima. A única certeza que depreendemos é que são religiosos, pela longa prece em silêncio antes da refeição, e que o pai da família sofre. Sofre só, na ausência dos muitos filhos, mas com a solidariedade de sua esposa.

Essa dor que faz aquele homem de sólida estatura chorar Luz Silenciosa nos explica em seguida: o pai da família está apaixonado por outra mulher. Não há um escândalo aí. Desde o começo o homem contou à esposa sobre a amante, e ele tenta equacionar o triângulo com racionalidade. Pode ser sua religião, um misto de medo e convicção, mas seu apego à família fala alto e ele não larga tudo pela outra. A história que Reygadas nos conta não é de separação, e sim de conformação.

Os críticos que menosprezam o mexicano dizem que seus filmes não fazem mais do que copiar o cinema de contemplação de pioneiros como Carl Dreyer (1889-1968) e Robert Bresson (1901-1999). A emulação é evidente, mas há em Luz Silenciosa momentos de brilho próprio. Toda a sequência do banho é de uma execução delicada e um significado profundo: por mais que a paixão chame, o senso de responsabilidade do pai, seu esforço para manter os filhos "limpos", alheios ao conflito, é tocante.

No fundo há uma religiosidade ali - ou, antes disso, um status quo - que está passando por uma provação, e esse é o grande tema do filme. A questão do divino já vem, de todo modo, embutido no título. Isso ganha contornos mais dramáticos, e muito bem sacados, quando descobrimos que essa família não vive em um campo isolado de um país nórdico, mas no Norte do México. O homem que se chama Johann entre os seus vira Juan com os outros.

A anacrônica comunidade de protestantes que mora ali - mal comparando, é como a comunidade isolada de A Vila - está num processo de auto-preservação, e o que Luz Silenciosa tem de mais interessante é como essa auto-preservação convive com um conceito diametralmente oposto a ela, que é o adultério, a negação do status quo, a substituição.

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