Filmes

Entrevista

Meu Malvado Favorito: Omelete entrevista Chris Meledandri

Produtor fala sobre sua relação com os brasileiros e como convenceu empresas a apostar em um anti-herói

06.08.2010, às 20H44.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H06

No meio de junho, o produtor Chris Meledandri veio ao Brasil. Na bagagem ele trouxe Meu Malvado Favorito, animação que marca a estreia de sua nova companhia, a Illumination Entertainment. Era a primeira exibição mundial da versão finalizada em 3-D do longa-metragem e depois da sessão ele conversou com alguns veículos brasileiros.

Ex-presidente da 20th Century Fox Animation e responsável por grandes sucessos animados, como a trilogia A Era do Gelo, Meledandri disse ter apenas boas referências dos brasileiros - resultado do seu trabalho com Carlos Saldanha. Antes de começar o nosso papo, ele quis saber mais sobre o Omelete e o mercado nacional. E no final, já com o gravador desligado, gastamos alguns minutos falando sobre o Estúdio Ghibli. Meledandri é grande fã do trabalho de Hayao Miyazaki e tem um quadro do artista japonês em seu escritório em Hollywood, algo que deveria ser obrigatório em todos os escritórios.

Flanimals

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Flanimals

Titan A.E.

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Titan A.E.

A Era do Gelo

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A Era do Gelo

Chris Meledandri

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Chris Meledandri

Meu Malvado Favorito

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Meu Malvado Favorito

Meu Malvado Favorito

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Leia abaixo como foi a conversa:

Para começar, essa é a sua primeira vez aqui no Brasil, certo?

Sim.

E como está sendo essa visita até agora?

Está sendo rápido, mas está tudo indo muito bem. Tenho planos de vir para cá já faz muitos anos e com certeza quero voltar pois 24 horas não é o suficiente. Isso não chega nem a ser uma visita. Eu com certeza vou voltar. Nós temos sorte porque em Los Angeles temos vários brasileiros que migraram para os Estados Unidos e eu tive a sorte de desenvolver uma relação, por exemplo, com Carlos Saldanha, pelo trabalho que fizemos em A Era do Gelo. Mas mesmo para esse filme, vale mencionar que um dos compositores é brasileiro, o Heitor Pereira. Eu sempre tive relacionamentos muito bons com brasileiros e por isso tenho muita curiosidade em saber mais sobre o país.

E eu ouvi que você usou um estúdio francês para fazer a animação deste filme. Seu plano é continuar com eles ou podemos esperar colaborações com o Brasil, onde já temos alguns estúdios trabalhando, por exemplo, com a Disney? É parte da sua estratégia procurar por talentos em outros lugares?

Para a gente, é. Nós começamos Meu Malvado Favorito de uma forma bem diferente para um filme de um grande estúdio. O primeiro ano de produção foi em Los Angeles, mas depois tivemos um diretor trabalhando em Nova Jersey, um editor em Minnesota, o Sergio Pablos, que foi quem trouxe a ideia do filme, trabalhou com um pequeno grupo de artistas de story-board na Espanha, enquanto outros estavam no Canadá e outros no subúrbio de Los Angeles. Todos nós estávamos conectados virtualmente. Foi um ótimo processo.

E eu viajei por toda a Europa procurando por um estúdio de animação onde pudéssemos usar a infra-estrutura já existente e aumentá-la de forma supervisionada para conseguir fazer um longa-metragem. Então foram 15 pessoas que se mudaram para a França e se juntaram à equipe que já estava lá. Nós fomos para lá com a intenção de fazer um filme e a experiência foi tão boa que já estamos desenvolvendo o segundo projeto, que nos permitiu recrutar novos artistas franceses.

Mas nós estamos vagarosamente vasculhando o mundo em busca de novos talentos na área de animação. Nós temos parceria com algumas pessoas do primeiro estúdio de computação gráfica do Japão, e nós já temos tomamos conhecimento de alguns artistas talentosíssimos do Brasil - Carlos me apresentou ao trabalho de alguns estúdios daqui.

Nossa companhia foi imaginada para criar colaborações e procurar artistas fora dos Estados Unidos com a mesma intensidade que procuramos no nosso próprio mercado.

O senhor pode falar qual o lado negativo de ter todas as pessoas trabalhando cada uma na sua cidade contra a experiência de ter todo mundo trabalhando junto?

Nós combinamos as duas coisas. A coisa mais importante que nos permite fazer isso é termos pessoas muito boas em trabalho colaborativo. E tem que ter um diretor talentoso, que consiga montar todas essas pequenas peças. Então, o lado positivo disso é que podemos ir onde o talento está. Antigamente, você só ia se dar bem se tivesse um grande estúdio na Califórnia ou Nova York. Os primeiros cinco ou seis filmes foram feitos pela Pixar, a própria Disney fazendo Dinossauros fora da Pixar, DreamWorks Studios e daí a Blue Sky, que eu comprei e montei para a Fox.

Agora, por causa dessa disseminação de artistas, que podem estar em qualquer lugar do mundo, há muitas oportunidades. Nos últimos dias, temos artistas saindo pelo ladrão. E isso lhe dá a flexibilidade, mas acreditamos que dá para criar os story-boards, editar, pensar na iluminação em lugares separados, mas o toque final tem que ser feito em um lugar só.

Você está começando o trabalho em uma nova empresa com uma história original e eu vi que vocês têm como futuros projetos Flanimals, que é uma adaptação de um livro do Rick Gervais, o novo A Família Addams, com Tim Burton, The Lorax que é mais um filme do Dr. Seuss... Por que você se decidiu por uma história original para começar o trabalho?

Os nossos trabalhos são divididos entre adaptações e histórias originais. Isso é um pouco do reflexo do que fiz no passado. Somos bastante comprometidos em contar novas histórias. Mas neste caso, a gente não ficou discutindo se íamos fazer um filme original ou adaptação. O que aconteceu foi que nós gostamos muito dessa história e nos empolgamos. Mas é um desafio extra vender isso. Dos filmes que serão lançados agora no meio do ano, de 30 lançamentos grandes, uns 24 são adaptações, sequências ou refilmagens, e só uns 6 ou 7 são histórias originais, incluindo aí o nosso filme.

Nós não acreditamos apenas nas mitologias ou personagens fortes, com capacidade de virar um bom filme, nós também acreditamos na descoberta, na originalidade. Um dos meus filmes favoritos do ano passado foi Se Beber Não Case e eu não tinha ouvido nada sobre ele até ver um comercial na TV. Eu adorei o filme. Também adorei Up - Altas Aventuras.

A animação parece ser uma área em que as pessoas tendem a acolher melhor histórias originais. Nós acreditamos que o que faz um bom filme não é ser baseado em alguma coisa. Tem muita coisa por aí que está virando filme, mas não mereceria pois é baseado em um material fraco. Nós temos que nos policiar para continuar trabalhando duro ao pegar uma obra que já existe. Pois é fácil cair na tentação de não criar nada de novo, e apenas usar o que já foi utilizado antes.

A Illumination é uma empresa nova e por isso não é tão conhecida como uma Pixar ou DreamWorks, por exemplo. Quais são os planos de vocês para chegar neste patamar?

Acho que a Pixar tem uma ótima história como marca, mas nós não temos essa preocupação de nos espelharmos neles nesse sentido. Mas o primeiro passo para ser conhecido é ganhar a confiança de quem faz e curte filmes, aquele cara que gosta de saber como eles são feitos. Esse público cria o boca-a-boca. E o único jeito de ganhá-lo é com os filmes que você faz porque, para eles, todo o resto é secundário. Se eles se empolgarem com o que você está fazendo, eles vão te apoiar.

É esse público que sabe quem é o Rick Gervais, por exemplo, e já ouviu falar do livro que estamos adaptando - que pouca gente fora do Reino Unido conhece. São essas pessoas que reconhecem o nome de um Matt Selman, que é um dos mais importantes roteiristas dos Simpsons, e se empolga ao saber que ele está cuidando do roteiro de Flanimals. São essas pessoas que percebem quando fazemos um cartaz diferente, que sai do que normalmente se vê por aí. Tudo isso é percebido por este público, mas quando eles olham para o elenco de Meu Malvado Favorito e vêem um nome como Russel Brand fazendo um desenho animado percebem que há algo diferente acontecendo.

Mas é lógico que eles têm de gostar do filme para isso ser sentido. São essas pessoas que vão ver um filme porque foi feito pelos produtores de um A Era do Gelo, ou se lembrar que fizemos Titan A.E., que foi um fracasso comercial, mas tentava buscar algo diferente.

Além disso você tem que procurar firmar parcerias com empresas de ponta, como japoneses que estão desenvolvendo a última tecnologia, companhias francesas ou o Tim Burton voltando a fazer uma animação em stop-motion, que é legal, mas não é o tipo de animação usada nos blockbusters.

Para terminar, queria saber qual foi a dificuldade de vender esse filme, já que o protagonista é um anti-herói. Como foi convencer grandes companhias como Best Buy que valia a pena associar suas marcas a um cara que quer roubar a lua?

[risos] Ótima pergunta. Quando eu olho para trás, eu ainda fico me perguntando isso. De alguma forma nós conseguimos convencer que este anti-herói tinha seu charme e acaba te convencendo no final que há um poder maior que vem do fato de que ele é um cara mau. Eu admiro de verdade as empresas que entraram no projeto, mas acho que no fim das contas é um tema que fala para todos os públicos, que é o fascínio com o nosso lado malvado. Nós temos tantos filmes que mostram o vilão contra o herói que depois de um tempo você quer explorar novos espaços. E acredito que a satisfação emocional deste filme e da comédia vem do fato que começamos o filme vendo um cara que é o mal encarnado e que você não sabe se gosta dele...

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