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Crítica

Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho | Crítica

Cinebiografia do escritor prega a redenção pelo sucesso

13.08.2014, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 15H23

Assim como Heleno, Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho é uma cinebiografia sobre o sucesso. Que o cinemão brasileiro do século 21 tenha transformado a ascensão social e econômica num totem, já fica muito claro em todas as nossas comédias que tratam de dinheiro, de De Pernas pro Ar a Até que a Sorte nos Separe, e as biografias não escapam desse fenômeno, o cinema-ostentação.

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Ao contrário da trágica trajetória de Heleno de Freitas, a história de Paulo Coelho começa mal e tem final feliz: de adolescente incompreendido a guru espiritual e best seller mais traduzido no mundo, acompanhamos o escritor (em interpretação de sotaque carioca preciso do ator Júlio Andrade) em seus momentos-chave, como a parceria com Raul Seixas e o caminho a Santiago de Compostela.

São duas vidas opostas, afinal, mas Não Pare na Pista se assemelha a Heleno nos saltos temporais que estabelecem uma relação superficial de causa e efeito entre os eventos do passado (a ruptura com o pai, a internação psiquiátrica, os bloqueios criativos) e do presente (a cirurgia no coração, a volta a Santiago). Em Heleno, a causalidade sugere penitência - o jogador de futebol de juventude gloriosa que pecou pelos excessos. Em Não Pare na Pista, sugere redenção.

Mas que redenção é essa? As cenas de Coelho no presente são variações de um único caso de sucesso: é o escritor que desfruta do reconhecimento popular por onde passa, é o senhor de idade que pode se dar ao luxo de excentricidades para manter o espírito rebelde. Pelas relações de causa e efeito, fica a impressão de que todas as dificuldades do passado se justificam em nome desse sucesso, tratado ao longo do filme como predestinação.

Em filmes assim, que flertam com a solenidade, é muito fácil transformar tudo o que se narra em sinais de predestinação - como a Olga Benário que se dizia grávida-de-Luis-Carlos-Prestes em Olga. Aqui esses sinais se enchem de misticismo, seja no texto (o médico que dizia que "ninguém vai querer ler o que você escreve, Paulo", o Paulo Coelho jovem achando que tudo o que acontecia ao redor era mesmo um sinal), seja na imagem (o bulbo da lâmpada associando paranormalidade e gênio, as figuras sacras sugerindo uma certa santidade até, completa na figura de Júlio Andrade cabeludo e barbudo como Cristo).

Em alguns momentos, esse quase messianismo se justifica. Fica difícil não se comover quando Coelho sobe ao palco para cantar "Sociedade Alternativa" com Raul Seixas sob os olhares da ditadura - cena em que a espiritualidade do escritor e compositor de fato se coloca em obra, em nome de uma catarse coletiva. Em outras cenas, porém, essa espiritualidade se confunde com ego, e o fato de as buscas de Paulo Coelho terminarem em soluções de "classe média" (chegar ao sucesso, à monogamia, voltar à família) só reforça a ideia de que esta "melhor história" de Paulo Coelho, apesar de seus testes de resistência e perseverança, no fundo prega a redenção pelo conforto.

Não Pare na Pista | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho
Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho
Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho
Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho

Ano: 2013

País: Brasil

Classificação: 16 anos

Duração: 112 min

Roteiro: Carolina Kotscho

Elenco: Júlio Andrade

Onde assistir:
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