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O Banheiro do Papa

Uma azarada história real

13.03.2008, às 12H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H30

Os créditos iniciais já avisam: O Banheiro do Papa (El baño del Papa) é baseado numa história real, que só poderia ter acontecido por uma tremenda falta de sorte.

A incrível história começa algumas poucas semanas antes da visita do papa João Paulo II a Melo, cidadezinha uruguaia quase na fronteira com o Brasil, em 1988. A presença do Sumo Pontífice causa furor na população do lugarejo, mas essa comoção não tem nada de religiosa... a visita atrairá 20 mil brasileiros ao lugar. Ou mesmo 40 mil. 60, dizem alguns.

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Banheiro do Papa

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Toda essa brasileirada terá que comer, e Melo inteira prepara-se como pode para alimentá-los, sonhando com a riqueza dos Cruzeiros vizinhos. Endividam-se... e tome montagem de barracas de linguiça, torta, bandeirola, churrasquinho, empanada...

Mas o simpático Beto tem outros planos. Pequeno contrabandista para as vendinhas locais - ele atravessa a fronteira duas vezes ao dia de bicicleta velha, carregando porcarias e fugindo dos oficiais aduaneiros -, ele pensa além de seus compatriotas. Se os brasileiros vão comer tanto assim, terão que se aliviar. Para tanto, precisarão de um banheiro! E lá vai Beto arrumar dinheiro para os blocos, canos, porta de luxo... só falta mesmo o vaso. Mas esse ele vai buscar ali, rapidinho, do outro lado da fronteira.

A tragicomédia, uma co-produção entre Brasil, Uruguai e França, é irretocável. Os diretores uruguaios Enrique Fernandez e Cesar Charlone (o celebrado diretor de fotografia de Cidade de Deus) foram muito felizes com o ângulo que encontraram para o filme. O Banheiro do Papa é engraçado e ao mesmo tempo tristíssimo, mas sempre otimista. Suas sutis observações sobre a fé, o capitalismo, a sociedade e a mídia não parecem nunca lições de moral - e são absorvidas em meio à bem contada história.

Igualmente excepcional é a seleção do elenco. César Trancoso, o Beto, é um ator incrível. Seu momento de epifania, quando lhe surge a idéia do banheiro, chega a ser emocionante. O sujeito mexe duas rugas e pronto... lê-se em seu rosto tudo o que ele está pensando. Como esse, há outros vinte momentos marcantes. Quando divide a tela com Virginia Mendez (que vive a esposa), então... dá vontade de reecontrá-los sempre.

Uma produção brilhante sobre um povo esquecido por Deus, mas, infelizmente, não por Roma. E se o Papa morreu "sem saber o mal que fez", como comenta um personagem, ao menos, graças a Fernandez e Charlone, nós saberemos.

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