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O Caçador de Pipas

O cinema dos EUA se volta ao Afeganistão para falar dos valores de seu próprio país

17.01.2008, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H32

O Caçador de Pipas (The Kite Runner, 2007) está longe de ser um filme de crianças sofridas do Oriente Médio à moda do cinema iraniano dos anos 90. Pelo contrário. Em um raro esforço de se aproximar e tentar compreender o Afeganistão, Hollywood realizou uma obra falada em cinco idiomas diferentes que a todo instante reforça valores do mundo ocidental.

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Muito antes de tocar no assunto dos abusos do talibã - que motivou, como resposta ao 11/9, a invasão do Afeganistão pelos EUA - o filme dirigido por Marc Forster com base no best-seller do escritor afegão Khaled Hosseini já opõe o ecletismo da cultura ocidental e o atraso religioso e político local. Transcorre o fim dos anos 70. Amir e Hassan, filho do seu empregado, são amigos de infância. Na rua, Hassan é ofendido pelos outros muçulmanos por ser da etnia hazara, considerada inferior. Dentro do cinema que Amir e Hassan frequentam, porém, eles são iguais - e recitam ao mesmo tempo, de cor, as falas de Charles Bronson no clássico faroeste Sete Homens e um Destino.

Dentro de casa, onde seu pai toma uísque, escuta músicas em inglês e dirige um Mustang, Amir aprende também que liberdade é incompatível tanto com o islamismo quanto com o comunismo. A comprovação vem em 1979, quando a URSS invade o Afeganistão e obriga o pai de Amir a fugir com o garoto para a América. Mais tarde, quando Amir já adulto janta em São Francisco com seus sogros, ele saberá, como bom cidadão dos EUA, se defender daqueles que ofendem a memória de Hassan - uma defesa que o pequeno Amir não soube fazer em Cabul quando Hassan foi atacado por aqueles que o desprezavam.

Não surpreende que O Caçador de Pipas, o livro, tenha se tornado um sucesso tão estrondoso. Hosseini oferece uma leitura mais do que segura para quem se condói à distância com as mazelas do Oriente Médio. No filme, Forster (que até hoje tinha demonstrado bom olho para detalhes, como em A Última Ceia e Em Busca da Terra do Nunca) registra as peculiaridades do mundo afegão também de modo fugaz.

A câmera passa fugidia por ruas, barracas e rostos com um certo pudor de se fixá-los, de se deter mais alguns segundos. O Afeganistão termina o filme como começou: uma exótica incógnita, um quebra-cabeça de peças que não se encaixam. A certa altura um personagem diz que Amir era um turista em seu próprio país... O Caçador de Pipas é também um estrangeiro - e como tal seu olhar não é apenas enviesado. É um olhar insuficiente.

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