"Michael Moore desistiu depois da primeira vez?", pergunta o insistente universitário aos seus colegas, cansados de perseguir com uma câmera um suposto caçador que mata ursos sem razão, no Oeste da Noruega. O elenco, composto por comediantes conhecidos no país, nessas horas olha para a câmera com aquela cara de sarcasmo... Não é difícil, de qualquer forma, fazer piada com gente que se leva a sério demais, como Michael Moore.
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Difícil, sim, é encontrar uma razão de ser para um filme como O Caçador de Troll (Trolljegeren), em que tudo parte da ridicularização. O caminho do documentário falso já foi trilhado por todas as cópias de The Office e a estética de Cloverfield também foi reproduzida a esmo. Se paródias servem para deslocar o objeto dessa paródia (e portanto o ineditismo é um fator decisivo), elas não funcionam tão bem diante de alvos já deslocados, já diluídos.
O que o filme escrito e dirigido por André Øvredal tem a nos oferecer, então, que não seja derivativo ou postiço? Um grande personagem, o único no filme que dá vida e sentido àquilo que faz, o Capitão Ahab dos nossos tempos: Hans (Otto Jespersen), o suposto assassino de ursos, na verdade um caçador de trolls.
Como o marinheiro que dedicou sua vida adulta a caçar Moby Dick, Hans vive em função das criaturas gigantes, mamíferos sensíveis à luz que reconhecem cristãos pelo cheiro e vivem nas florestas e dentro das montanhas da Noruega. O que torna mais trágica - e engrandecedora - a rotina de Hans é a necessidade de manter em segredo a existência dos trolls. O caçador se arrisca contra criaturas que todos creem ser obra de folclore, em nome de uma glória que nunca deixará o anonimato.
Jespersen também é um nome conhecido na Noruega pelas comédias, mas sua interpretação de Hans, pelo menos para o espectador que o desconhece, soa autêntica. É o homem de poucas palavras e hábitos aparentemente supersticiosos, que carrega no rosto abatido as marcas de anos de trollagem. Um herói à moda antiga, que reluta em envolver inocentes no seu martírio, cujo único conforto é uma mulher que o espera no lar sem saber se o verá no dia seguinte.
Embora O Caçador de Troll nos relembre, o tempo todo, que estamos numa brincadeira de metalinguagem (o filme ganharia se simplesmente matasse o mala do universitário-chefe e eliminasse firulas juvenis, como a da lente quebrada), os momentos em que Øvredal filma Hans têm, sempre, uma procura por uma verdade, uma dramaturgia. O momento em que o caçador se despede da mulher e desaparece na neve, veja só, chega a nos tocar o coração.
Quanto aos trolls, esses não merecem misericórdia.
O Caçador de Troll | Trailers e clipes
Ano: 2010
País: Noruega
Classificação: 14 anos
Duração: 103 min
Direção: André Øvredal
Roteiro: André Øvredal
Elenco: Otto Jespersen, Hans Morten Hansen, Tomas Alf Larsen, Johanna Mørck, Knut Nærum, Robert Stoltenberg, Glenn Erland Tosterud