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O Crítico | Crítica

Comédia romântica cansada repassa a lista de clichês do gênero mas ignora suas musas

24.12.2014, às 17H00.
Atualizada em 10.01.2015, ÀS 18H48

A metalinguagem é o refúgio das comédias românticas que se envergonham de se filiar ao gênero, como se assumir clichês e comentá-los em cena servisse, de alguma forma, como vacina a esses clichês. Há filmes que sabem fazer esse jogo muito bem - de Um Lugar Chamado Notting Hill a Abaixo o Amor - mas no geral é um recurso que mais oprime do que liberta.

O Crítico (El Crítico, 2013) é o tipo de filme oprimido por essa fórmula, incapaz de ir além de suas muitas tiradas autorreferentes (a começar pelo pôster que evoca Notting Hill), e que estabelece com o público uma troca desleal: se alguém não conseguir se emocionar com O Crítico, o problema não é do filme, que afinal está sendo muito honesto ao expor seus clichês, e sim do espectador, esse insensível.

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Tudo é oito ou 80 em O Crítico, como a certa altura define um personagem que divide o mundo entre dois tipos de pessoas, os que saem do cinema e se fecham e os que saem do cinema para discutir com os amigos. O protagonista Víctor Tellez (Rafael Spregelburd) é o crítico de cinema estereotípico - solitário, intransigente e passivo-agressivo - e a chegada em sua vida de uma também estereotípica MPDG, a estrangeira Sofia (Dolores Fonzi), abala as convicções de Tellez.

Por um momento, no começo do filme, quando Tellez é forçado a passear por Buenos Aires com sua sobrinha, Ágatha (Telma Crisanti), que trabalha em uma locadora e adora as comédias românticas mais melosas, o roteiro escrito pelo diretor Hernán Guerschuny flerta com questões geracionais interessantes, e nessa hora O Crítico soa promissor, ao se aproximar do filme-flaneur típico da Nouvelle Vague (movimento caro a Tellez, cuja narração em off é feita em francês).

Guerschuny, porém, infelizmente, não percebe que Ágatha poderia ser a sua Zazie, e O Crítico coloca a personagem de lado e abandona a rua - com seus acasos que poderiam desarmar a postura sabe-tudo de Tellez - para se refugiar em situações seguras entre quatro paredes, com o crítico apaixonado depois de alguns jantares e cafés-da-manhã a dois.

A postura reativa do filme fica bem clara quando um personagem se declara, diz que quer viver com fulana porque "cansou de procurar a protagonista de sua vida". É um filme cansado mesmo, esse O Crítico, e seu tédio impede Guerschuny inclusive de dar atenção à sua musa. Depois de largar Ágatha pelo caminho, subaproveita Sofia. Quem é ela, no filme, além de uma presença evidentemente solar? Quais são seus sonhos, seus medos? O Crítico teme se aproximar - como Tellez, aliás, que observa à distância a moça brigando com o ex-marido. E a história de Sofia, que Tellez aproveita num roteiro, no fim nem é tão particular assim.

E esse é o erro fundamental de Guerschuny: não perceber que o principal clichê das comédias românticas, a idealização do sexo oposto, exige olhar, dedicação. Não é como a cena da chuva ou a da correria no aeroporto, automáticas, inalteráveis. Cada musa é única, ainda que nesses filmes sirvam sempre a propósitos parecidos, e para saber idealizá-las é preciso, antes de mais nada, não se envergonhar disso.

O Crítico | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
O Crítico
El Crítico
O Crítico
El Crítico

Ano: 2013

País: Argentina

Classificação: LIVRE

Duração: 90 min

Direção: Hernán Guerschuny

Roteiro: Hernán Guerschuny

Elenco: Rafael Spregelburd, Blanca Lewin

Onde assistir:
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