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O Grande Dave

Comédia-família com Eddie Murphy não é melhor que suas escatologias - é só mais inofensiva

07.08.2008, às 17H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 21H59

Existe esse consenso de que Eddie Murphy faz as piores comédias, multiplicando sua presença em cena com muitas camadas de maquiagem e piadas de flatulência, mas em essência não é isso que faz os filmes serem ruins (faz apenas serem grosseiros). O Grande Dave é ruim porque o humor de Murphy é baseado numa mistura de constrangimento com ofensa, e o filme, paradoxalmente, luta o tempo inteiro para anular isso.

Primeiro o longa começa investindo no absurdo. O negro alto careca aterrisa em Nova York com um terno todo branco. Diante das pessoas, sorri de um jeito que mostra todos os seus 32 dentes brancos - sempre em constante close-up, em planos que duram tempo suficiente para constranger os co-protagonistas de Murphy e a platéia. Quando aperta a mão de um sujeito branco e imita seu jeito de rir, Murphy o faz da forma mais caricata. Parece relinchar como um cavalo com problemas mentais.

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Desde seus tempos de Saturday Night Live o comediante aposta na exacerbação desse constrangimento racial. Mas os tempos são outros e a proposta de O Grande Dave também é distinta. Dá pra saber bem a hora em que o filme deixa de lado o humor anárquico para começar com as melosidades: quando Murphy conhece a personagem de Elizabeth Banks e a câmera vai atrás de Gabrielle Union para denotar o triangular conflito amoroso.

A história em si falava de estrahamentos. Representante de uma civilização tipo terra de Gulliver, Murphy vive o diminuto capitão de uma nave alienígena (espaçonave essa que tem a forma de um Eddie Murphy em tamanho real) que ruma à Terra para chupar seus recursos hídricos. Gabrielle Union interpreta a terceira em comando na nave. E Banks é uma mãe viúva e carente em NY. As piadas começam a partir do momento em que a "nave" precisa interagir com os humanos. E de repente as piadas param.

Os roteiristas Rob Greenberg e Bill Corbett e o diretor Brian Robbins abdicam do humor em nome de uma história tão velha quanto o próprio gênero da ficção científica: os ETs que invadem o planeta e aqui se apaixonam pelo modo de vida pouco racional dos terráqueos. É uma história não de diferenças, mas de assimilações. A tripulação da nave assimila os gestos e os hábitos dos humanos, os humanos assimilam a esquisitice de Dave. Mais do que ruim, O Grande Dave é então um filme equivocado. Impõem a Murphy a assimilação, mas seu humor sobrevive justamente do contrário, do confronto.

Pode parecer à primeira vista que não é tão ruim quanto as comédias escatológicas que ele faz. Mas é só mais inofensivo.

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