Coragem e perseverança são, reconhecidamente, algumas das qualidades de Walbercy Ribas, além de uma certa teimosia insana. Quem, em plena consciência, gastaria vinte anos e R$ 4.000.000,00 do próprio bolso para concluir um desenho animado?
Para a felicidade de crianças, na faixa dos quatro, cinco anos, existem pessoas como Ribas, um autodidata veterano da animação publicitária. O Grilo Feliz, o seu primeiro longa-metragem, conseguiu milagrosamente chegar ao circuito em 2001, e agora ganha exibição gratuita no Vão Livre do Masp para a 31a. Mostra de São Paulo.
grilo feliz
Dono do estúdio Start de animação, Ribas produziu em 35 anos algumas das mais famosas peças de animação brasileiras. Os traços do grilo do filme se assemelham com os contornos do homenzinho azul dos comerciais de cotonete. Entre mais de 2.000 comerciais e prêmios internacionais, se destacam também as baratas Rodox e o tigre Tony. Até mesmo o tal grilo feliz já foi protagonista de propagandas da Sharp.
O desenho conta a fábula de grilo feliz e seus amigos de brejo. Um dia, o lagarto Maledeto invade a região e se auto-proclama Rei. Com a sua música e com a ajuda das estrelas, grilo se incumbe de salvar a todos. Num mercado em que a hegemonia dos hollywoodianos impossibilita qualquer concorrência, a iniciativa de Ribas chega a ser, no mínimo, simplória. A comparação com Vida de Inseto (A Bug's Life, 1998), da Disney/Pixar, ilustra ainda melhor o fosso que separa as duas realidades.
Em vinte anos, a animação utilizada no longa, uma mistura de artesania com cenários e arte-final computadorizados, se tornou datada. Mas tudo isso não importa muito. Recomenda-se O Grilo Feliz, como diversão, para as crianças bem pequenas. E a trajetória de vida de Walbercy Ribas serve de modelo de perseverança aos mais velhos.
