Se você é do tipo que costuma se atrasar quando vai ao cinema e vive perdendo o começo do filme (mesmo com a enorme quantidade de propaganda que os exibidores nos empurram goela abaixo sem descontar no preço final do ingresso), adiante o seu relógio e faça um esforço extra para chegar no horário da sessão de O Reino (The Kingdom, 2007). Junto aos créditos iniciais, é explicada de forma bastante dinâmica e didática a relação da Arábia Saudita e os Estados Unidos da América. Cheios de gráficos e imagens de arquivo, o vídeo monta uma linha do tempo que começa em 1926, quando o reino saudita foi criado, até a descoberta do petróleo, passando pelo enriquecimento local, a crise do petróleo dos anos 70, guerra do Kuait e os atentados de 11 de Setembro.
O que isso tem a ver com o filme? Muito pouco. Toda esta introdução serve apenas para ajudar a disfarçar esta fita de ação e aventura em um thriller político, o que ela não é. Quando o filme realmente começa, acompanhamos uma base estadunidense onde se joga softball, se faz churrasco com hambúrguer e salsicha e se monta todo um esquema de segurança além do imaginado. Mas, como sabemos, quanto maior a altura, maior o tombo, ou, no caso, quanto mais bem guardado um local, maior é o seu valor para os terroristas.
o reino 1
o reino 2
A matança começa com com alguns tiros e vai evoluindo até contar mais de 100 mortos e outras duas centenas de feridos. Uma das vítimas é um agente do FBI Francis Manner (Kyle Chandler, da série Early Edition), morte que deixa o departamento em profunda crise. Ronald Fleury (Jammie Foxx) quer de qualquer jeito voar até lá e pegar quem armou os atentados. Esbarra inicialmente na burocracia, mas depois de mexer seus pauzinhos consegue permissão para visitar o país árabe, ao lado dos agentes Grant Sykes (Chris Cooper), Adam Leavitt (Jason Bateman) e Janet Mayes (Jennifer Garner).
Se o diretor Peter Berg acerta ao mostrar os realistas entraves enfrentados pelos agentes do FBI frente à polícia e aos costumes locais, erra a mão ao mostrá-los como os sabichões que ficam desesperados ao verem as autoridades locais destruindo a cena do crime, mas conseguem ser mais espertos do que todos ao reunir, na surdina, algumas evidências. Tudo bem que a bola é deles e eles brincam do jeito que eles querem, mas já está um pouco batida demais essa postura de xerife do mundo, não?
Para piorar, no terceiro ato, a correria, os tiros e as explosões estão finalmente liberados. E aí é aquele jogo de sempre, previsível e com cartas marcadas. Não é preciso ser muito esperto para saber quem vai chegar ao fim do filme e quem vai ficar pelo caminho. Para fechar, o epílogo vem acompanhado de uma desnecessária lição de moral digna dos desenhos do He-Man. Se ao menos o tal Reino do título fosse Etérnia...