O Roqueiro
O Roqueiro
Trata-se da história de Robert Fishman (Wilson), ex-baterista da banda oitentista Vesuvius. Em 1986, quando o rock farofa estava no auge e o Vesuvius, prestes a estourar, Fish, como é conhecido, foi substituído nas baquetas pelo filho do chefão da gravadora. Ou seja, entrou para a história como o clássico infeliz anônimo que já fez parte de toda banda antes da fama. Agora, 20 anos depois, Fish tem a chance de recuperar o brilho, assumindo a bateria da banda de garagem do seu sobrinho.
Não é preciso muito repertório para perceber que o humor que Rainn Wilson faz na televisão é muito mais trabalhado do que o humor de O Roqueiro. Digo "trabalhado" para não ter que dizer "sofisticado", que é um adjetivo com conotação esnobe. Mas o termo é esse mesmo. Depois de ver no filme Wilson cair no chão e bater a cabeça no teto, duas vezes cada, dá saudade da sofisticação de Dwight. O humor do comediante está na linha vanguardista de Will Ferrell e Steve Carell, um humor de constrangimento, no bom sentido, pois expõe os rostos dos atores, em planos de longa duração, até o limite da vergonha alheia.
Já O Roqueiro insiste em apostar nas gags físicas mais clássicas, linha Jim Carrey. E não dá pra rir muitas vezes do mesmo tombo.
O diretor Peter Cattaneo, de Ou Tudo ou Nada, definitivamente não sabe valorizar essa veia de Rainn Wilson para a comédia auto-depreciativa. Mas humor é questão de gosto, você pode dizer. Há na história do filme algo que valha a pena?, você pode perguntar. Bem, depende da sua tolerância para canções emo e adolescentes que se comportam do jeito que os adultos de Hollywood imaginam que os adolescentes reais se comportam (nerd nenhum, por pior que seja, usa colete num baile de formatura, aliás).
O Roqueiro tem até dificuldade em honrar seu próprio nome. Há uma cena que sintetiza perfeitamente a má interpretação que os realizadores fazem do velho e dos novos roqueiros: quando o baterista tiozão e o jovem compositor estão no carro ouvindo as músicas novas da banda. Fish se empolga com a qualidade da poesia do garoto. Estão numa bela catarse dentro do carro, cantando juntos as maravilhas de ter "nascido para ser selvagem". E eles avistam um semáforo logo adiante. Como o baterista é fruto de 1986, época em que os ídolos da juventude apostavam para ver quem transava com groupies por mais tempo sem ter que tomar banho, imagina-se que Fish vai pelo menos atravessar no farol vermelho...
Mas ele pára o carro no semáforo, pede o celular do rapaz, e registra aquele
momento mágico com uma auto-fotografia dos dois! Se fosse no Saturday Night
Live, a cena seria uma sátira. Como Cattaneo (que consegue ser bem meloso
quando quer) leva aquilo a sério, daí vira constrangimento mesmo, no mau sentido.
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