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Omelista: Filmes para o Dia dos Namorados

Omelista: Filmes para o Dia dos Namorados

11.06.2003, às 00H00.
Atualizada em 12.06.2017, ÀS 11H52

O galã implora, a mocinha resiste, mas o amor prevalece. Ou a mocinha implora, o galã resiste, e o amor também vence no final. Fórmulas românticas são vastamente conhecidas. Por isso, o Omelete decidiu fugir do óbvio e sugerir uma "omelista" de dez filmes para o Dia dos Namorados com base no ecletismo. Uma relação formada por comédias românticas ou dramas açucarados, fáceis de se encontrar em VHS ou DVD, e que contém um sabor a mais - seja ele a crítica social, a análise comportamental de uma época ou um vigoroso exercício de virtuose técnica. Nessa data especial, presenteie quem você ama com um filme de qualidade.

Confira abaixo nossas indicações, listadas em ordem cronológica:

Jejum de amor
(His girl friday), de Howard Hawks, 1940

Tido como a melhor comédia do diretor, o filme apresenta um dos melhores roteiros já escritos, ligeiro, mordaz e cheio de reviravoltas. Acontece que este não é um romance tradicional. Talvez seja, dentro os dez da nossa lista, aquele que menos se encaixa nessa definição. Mas a química entre Cary Grant (1904-1986) e Rosalind Russell (1907-1976) gera uma tensão sexual tão cativante que seria um deslize esquecê-lo. Méritos do mestre Hawks (1896-1977), que reelabora a peça da Broadway The Front Page, de Ben Hecht (1894-1964) e Charles MacArthur (1895-1956), transformando os dois protagonistas homens em um casal de jornalistas divorciados.

Além de ex-marido, o convencido Walter Burns (Grant) é também o editor da enérgica repórter Hildy Johnson (Rosalind). Mas quando ela anuncia que deixará a profissão para se casar com o engomado Bruce Baldwin (Ralph Bellamy), Walter decide utilizar a sua astúcia jornalística para impedi-la. O truque começa a funcionar quando Hildy adia a viagem com Bruce para cobrir um tremendo furo: o questionável enforcamento de Earl Williams (John Qualen), acusado de homicídio, um fato que leva a sérios desdobramentos políticos. Enquanto são mostrados de forma corrosiva todos os vícios da imprensa, o malicioso tiroteio verbal entre Walter e Hildy encanta o espectador. Disponível em DVD, com belos extras.

Tarde demais para esquecer
(An affair to remember), de Leo McCarey, 1957

Assim como o filme de Hawks, este também é estrelado pelo charmoso Cary Grant. Mas o que o primeiro tinha de instigante, este tem de emocionante. Um clássico do lenço de papel, o bem construído enredo serviu de inspiração para inúmeros filmes, como os recentes Sintonia de amor (Sleepless in Seattle, de Nora Ephron, 1993), Segredos do coração (Love affair, de Glenn Gordon Caron, 1994) e Escrito nas estrelas (Serendipity, de Peter Chelsom, 2001). Detalhe: o próprio filme já é um remake de Duas Vidas (Love affair, 1939), do próprio diretor McCarey.

Na trama, o playboy Nickie Ferrante (Grant) conhece a deslumbrante Terry McKay (Deborah Kerr) numa viagem de transatlântico. Piscadela vai, flerte vem, apaixonam-se - mas como já são comprometidos, decidem se encontrar em seis meses no topo do Empire State caso ainda sintam a chama da paixão. O galã comparece, mas a jovem é atropelada próxima ao prédio, quando rumava ao encontro. Obviamente, Nickie se sente desprezado. Que fim levou Terry? O que o futuro lhes reserva? Um sonho utópico pode vencer a amargura de um destino burocrático? Alugue o DVD e confira.

A Primeira noite de um homem
(The Graduate), de Mike Nichols, 1967

Recentemente, Dustin Hoffman afirmou ter escolhido a vida de ator por ser feio demais para ganhar a mulherada naturalmente. Modéstia, Mister Hoffmann. Ao som de Simon & Garfunkel, em sua segunda aparição no cinema, já entrava para a lista dos bom-moços imortais, lascava bons beijos nas divas Anne Bancroft e Katherine Ross, e ainda recebia a primeira indicação ao Oscar de Melhor Ator. O diretor Nichols não apenas inaugura o gênero dos filmes conduzidos por canções especialmente criadas para uma película, mas também faz o retrato de uma jovem geração alienada, em busca desesperada por uma direção contrária ao falido sonho americano.

No começo, o recém-formado Benjamin (Hoffmann, já aos trinta de idade) encontra na sedutora Mrs. Robinson (Bancroft) um grande desejo de consumo. Nada mal, pensa ele, ter uma mulher madura ensinando os prazeres da vida com hora marcada, em segredo, sem compromissos. Acontece que Benjamin recebe como tarefa escoltar a melancólica filha dos Robinson, Elaine (Katherine), noite afora. Aos poucos o jovem repara nos encantos de Elaine. Mas quando percebe que está apaixonado, leva um sermão de Mrs. Robinson. Elaine muda-se por ordem dos pais. Arruma um noivo. Oras, na cabeça de Benjamin, correr atrás da garota e conquistá-la significa dar algum sentido à vida! De uma pureza ímpar, a cena final do casal figura entre as imagens inesquecíveis do cinema. DVD disponível em bancas, baratinho.

O Homem que amava as mulheres
(LHomme qui aimait les femmes), de François Truffaut, 1977

Depois das tradicionalistas indicações acima, vale assinalar também uma opção cult, profunda e poética, mas não menos simpática e bem humorada. Truffaut (1932-1984) sempre foi um grande apaixonado, pelo cinema e pelo sexo oposto. E distribuía, em cada novo filme, algum traço autobiográfico. Em determinada cena desta película, uma mulher tenta explicar a fama de Bertrand Morane (Charles Denner), um garanhão incorrigível: É difícil recusar coisas a você. Porque você pede como se a sua vida dependesse disso. Bertrand, Truffaut... fica difícil dissociar a imagem do homem da do personagem.

Numa sequência, diagnosticado com uma doença venérea, entre as várias garotas que lhe chegam à mente, Bertrand sequer recorda o nome daquela com quem saíra dias antes. De fato, desde o complexo de Édipo até a tara por pernas roliças, do sexo em locais públicos até a fascinação pela voz de uma telefonista, o personagem se desdobra numa sucessão de experiências. Mas ao mesmo tempo em que depende integralmente das mulheres, nutre o descompromisso diante delas. Enfim, amargo, o conquistador se descobre incompleto por não amar de verdade. Mais tragicamente romântico, impossível. Vasculhe locadoras atrás do VHS. Numa noite fria, vale muito a pena.

Grandes esperanças
(Great expectations), de Alfonso Cuarón, 1998

A safra atual começa a aparecer na nossa lista, mas na forma de um clássico. Livro de 1861, Great expectations, de Charles Dickens (1812-1870), já foi adaptado inúmeras vezes para o cinema desde 1917. Em 1946, o genial David Lean deu a sua versão. Mas o mexicano Cuarón faz valer as suas escolhas. Não apenas atualiza a trama com sensatez, mas também esbanja domínio técnico ao fazer prevalecer nos figurinos, na cenografia e na película uma cor esverdeada (a sua preferida) e assim impor uma atmosfera onírica e estilizada aos encontros do jovem sonhador com a menina insensível.

A vida não apresenta um futuro muito promissor ao órfão Finn Bell (Ethan Hawke) nos seus oito anos de idade. Um dia, ele visita a mansão Paradiso Perduto e descobre ali uma menina de feições angelicais, sobrinha da dona do lugar, a pomposa Sra. Nora Dinsmoor (Anne Bancroft, de novo brincando com jovens corações). Estranhamente, ela pede que Finn volte regularmente à mansão para entreter a pequena Estella. Na verdade, a mulher pretende se vingar dos homens ao cultivar a paixão do menino e educar Estella na cartilha da indiferença. Anos depois, Estella (Gwyneth Paltrow) encontra o artista plástico Finn em Nova York, cujo trabalho é financiada por um misterioso mecenas. E eis que um novo flerte agora toma a forma do desejo adulto. Quer descobrir como flores verdes brotam do concreto? O DVD é fácil de achar, também disponível em bancas.

Fim de caso
(The end of the affair), de Neil Jordan, 1999

Atenção: nem só de finais felizes se faz um bom romance. O escritor e jornalista Graham Greene (1904-1991) sabe disso, e costura relacionamentos com complexos panos-de-fundo políticos - o tema que lhe é realmente importante. Assim o fez em O Americano Tranquilo, romance de 1957, e como já tinha feito seis anos antes, no livro autobiográfico The end of the affair. Depois de Edward Dmytryk em 1955, Jordan é o segundo diretor a arriscar uma adaptação. Exibe a competência habitual e monta o seu drama de forma inventiva: passa e repassa os acontecimentos, do ponto de vista dos três personagens principais.

Em Londres, durante a II Guerra Mundial, o escritor Maurice Bendrix (Ralph Fiennes) mantém uma relação amorosa com a radiante Sarah (Julianne Moore), esposa do seu melhor amigo, Henry (Stephen Rea). Abruptamente, em 1944, a mulher rompe o caso extra-conjugal. Dois anos depois, quando reencontra Henry, o escritor segue com dúvidas, acha que ela arrumou um amante mais novo. Assim, ele contrata um detetive para segui-la. Em pouco tempo, Maurice tem nas mãos o diário de Sarah - e ciente da verdade sobre a separação, tenta reviver a paixão. Não apenas a excelente fotografia ou a interpretação do ótimo elenco faz deste um filme especial, mas também o controle do diretor Jordan, que impede o melodrama fácil. Pode ser trabalhoso achá-lo: o DVD, da Columbia, anda fora de catálogo.

As Mulheres de Adam
(About Adam), de Gerard Stembridge, 2000

Uma passagem ligeira nos cinemas, tímido destaque na programação de TV paga. Uma pena, pois essa comédia irlandesa se diferencia da produção industrial norte-americana pelo humor afiado, pelo carisma dos personagens e pela montagem inteligente. A técnica se assemelha à de Neil Jordan. O espectador vê e revê cenas por enfoques e interpretações distintas. O resultado? Aquilo que antes parecia uma honesta declaração de amor, logo mostra-se a enrolação mais vigarista. Tudo culpa de Adam (o divertidamente canastrão Stuart Townsend), namorador bom de lábia com uma fachada do tipo cachorrinho abandonado.

O início do filme sugere um insuportável água-com-açucar. A bela Lucy (a boazinha Kate Hudson) procura uma paixão verdadeira, e encontra no órfão sentimental Adam um refúgio perfeito. A família de Lucy também derrama elogios sobre o rapaz. Enfim, Lucy propõe o casamento, que Adam aceita com um sorriso luminoso. A moça nem desconfia, mas o espectador logo descobre que Adam não presta - quando o filme volta ao início e mostra ele se envolvendo com a mãe e as duas irmãs da noiva. Nem o irmão hetero resiste aos encantos do Don Juan. Aproveite: o filme ainda figura na grade do canal Cinemax. E o DVD tem bons making-of e entrevistas.

O Fabuloso destino de Amélie Poulain (resenha)
(Le Fabuleux destin dAmélie Poulain), de Jean-Pierre Jeunet, 2001

Existe algo de impositivo na conduta da fofa Amélie (Audrey Tautou), a garçonete parisiense que decide ajeitar, à força, a vida de todos aqueles que a cercam. Mas fica difícil resistir ao colorido formato com que Jeunet apresenta a mensagem benevolente da sua fábula moderna. Sucesso em sua terra natal, a França, com mais de 7.000.000 de espectadores, o filme cativou o mundo. O diretor utiliza uma película ultra-sensível, propícia às imagens estouradas, de detalhes granulados, como numa tela do Impressionismo. Faz de sons cotidianos uma melodia hipnotizante. E cria personagens caricaturais irresistíveis.

No caso de Amélie, a vida não lhe oferece mais do que uma rotina sem sobressaltos. Até o dia em que encontra uma velha caixa de cacarecos em seu apartamento, talvez datada da década de 50 - e resolve procurar o seu dono original. Imediatamente se transforma numa fada-madrinha dos necessitados. Ajuda uma hipocondríaca a descobrir o amor. Conduz o pai, já viúvo, a viajar o mundo - e assim por diante. Ironicamente, a solitária Amélie só não consegue ajudar a si mesma. Mas o amor está no ar, caro leitor. Tente segurar os beijos, sorrisos e abraços ao passar dos créditos finais. Disponível em DVD duplo.

O Filho da noiva
(El Hijo de la novia), de Juan José Campanella, 2001 (resenha)

Dificilmente alguém desconhece o filme argentino que cultiva fãs há oito meses nos cinemas. Rafael Belvedere (Ricardo Darín), um quarentão estressadíssimo, pai divorciado, administra o restaurante de seu pai, Nino (Hector Altério), mas não tem realizações próprias das quais se orgulhar. Para piorar, sua mãe, Norma (Norma Aleandro), sofre os primeiros sintomas de Mal de Alzeheimer, a perda da memória. Mas quando Nino propõe a Norma um novo casamento na igreja, para reforçar votos feitos há quarenta anos, Rafael, o filho da noiva, percebe o momento de mudar também sua própria vida.

Exemplar mais emotivo e bem-sucedido da nova safra platina, o filme de Campanella trata com respeito e delicadeza as relações humanas. Inatacável, a trinca de protagonistas emociona pela dedicação. Mas não é esse o único motivo do sucesso. O diretor inova ao exibir, como painel, a tempestade econômica em Buenos Aires. Além disso, sabe equilibrar muito bem o drama e o riso. E consegue impor seu estilo em situações teoricamente previsíveis - como a hilária cena da discussão de Rafael com seu melhor amigo, que acontece em meio às tomadas de um filme fictício. Segue em cartaz no Belas Artes de São Paulo. Lançamento do DVD prometido para Junho/Julho.

Embriagado de amor
(Punch-Drunk love), de Paul Thomas Anderson, 2002 (resenha)

Fechando a lista em grande estilo, o ápice do ecletismo. Responsável por Boogie nights (1997) e Magnólia (1999), Anderson, 33 anos, já é um dos melhores diretores norte-americanos de sua geração. Aqui, ele alivia a carga dramática, sem deixar de lado os seus temas preferidos, como a redenção dos tipos menosprezados e a crítica à individualista sociedade do consumo. Resultados: prêmio de Melhor Diretor em Cannes 2002, o grande trabalho da carreira do comediante Adam Sandler e, de quebra, a melhor comédia romântica hollywoodiana realizada em anos, tecnicamente original e narrativamente vigorosa.

Na trama, o introvertido Barry Egan (Adam Sandler) atravessa uma existência vazia, reflexo de uma infância reprimida ao lado de sete irmãs. Não raramente, Egan explode em arroubos de paranóia, choro e violência (cenas pontuadas pelo singular virtuosismo visual e sonoro do diretor). Nesse panorama, a instrumentista Lena Leonard (Emily Watson), apaixonada à primeira vista por Egan, surge como um antídoto - que o protagonista toma em pequenas doses, com fortes engasgos. Aliás, o filme é de difícil digestão para aqueles que gostam de explicações mastigadas. Corra para os cinemas e se deixe embriagar. E tenha um feliz Dia dos Namorados!

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