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Os Bastardos - Festival do Rio 2008

Cínico e pessimista, filme acaba gerando um impacto vazio

09.10.2008, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H40

Protegido do cineasta mexicano Carlos Reygadas, de Japón, Batalha no Céu e Luz Silenciosa, Amat Escalante divide com o seu mentor e conterrâneo o gosto pela polêmica e pelo impacto. Depois da estréia com Sangre, este seu segundo longa-metragem, Os Bastardos (Los Bastardos, 2008), já começa mostrando a que veio (e prenunciando o pior): depois um longo momento de torpor, um estrondo.

O torpor é um plano geral de um amanhecer, em um canal seco de concreto, com um viaduto de carros ao fundo, onde acompanhamos dois homens andando em direção à câmera. O plano deve ter uns três, quatro minutos, e termina com os dois homens saindo do canal. Corta para o estrondo dos créditos iniciais: uma tela totalmente vermelha, rock pesado em alto volume, depois toda branca, daí vermelha de novo, com o título do filme, garrafal, escrito em branco.

Passado o surto "artístico", enfim o filme. São sete e pouco da manhã, horário em que mexicanos ilegais se enfileiram na Rua Spring de Los Angeles esperando por trabalho. Aqueles dois homens do começo, Jesús (Jesus Moises Rodriguez) e Fausto (Rubén Sosa), estão entre eles. Aparece um estadunidense na sua picape atrás de mão-de-obra. Ele oferece a seis mexicanos oito dólares por hora em um trabalho de construção de uma casa. Os ilegais conseguem fechar por dez dólares. Curiosamente, Jesús não desgruda de sua mochila. Aprendemos depois que na mochila há uma escopeta calibre .12, e que a arma é parte de outro trabalho para o qual Jesús e Fausto haviam sido contratados naquela manhã.

Os Bastardos não demora para fazer associações com suas poucas cenas: são os mexicanos os responsáveis por fazer de L.A. o que ela é (o plano na grua que começa na construção da casa e depois sobe para mostrar, ao longe, toda uma cidade em obras), os nativos são ingratos (o contratante não se lembra do que negociou antes) ou são disfuncionais (a mãe se droga e o filho se aliena) e os EUA, como um todo, representam o desvituamento (Jesús não telefonava para o México há três meses, folheia uma revista sobre carrões e gostosas de biquini, etc.).

Escalante tem todo o direito de fazer um filme cínico e pessimista - Os Bastardos reitera, afinal, como sabemos, que o sonho de "fazer a América" é uma ilusão. O problema é a forma simplista como ele retrata essa realidade. Os rostos dos atores não-profissionais são expressivos? Sim. O diretor constrói enquadramentos bem pensados? Sim. Mas todo esse esteticismo, aliados com àquelas simplificações listadas no parágrafo anterior, servem apenas para o impacto vazio. É o tipo de filme que vai ganhar adeptos, especialmente os sádicos e os impressionáveis, mas que não constrói nada.

Bastardos 3

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