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Os Desafinados

Está aí um título adequado

29.08.2008, às 16H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H39

Cineasta veterano, Urso de Prata em Berlim por Brasil Ano 2000, de 1969, Walter Lima Jr. tem uma obra tímida no período da Retomada, com destaque para A Ostra e o Vento, de 1997. A ferrugem se faz notar em Os Desafinados - o público de hoje deve notar, talvez se incomodar, logo de cara, com as imperfeições de som.

Falta de som direto, uma discutível opção pela dublagem e a má equalização durante os trechos musicados chamam a atenção.Para um filme que fala de Bossa Nova - nem precisa ser um João Gilberto para reclamar - isso é certamente mais do que um detalhe. Falando em ruído, há a direção de atores não-naturalista - elenco atuando pesado no começo do filme, como mímicos, pra ter certeza que a câmera vai pegar o gestual.

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Nos seus primeiros 20 minutos, Os Desafinados se parece com um filme do começo da Retomada.

São os instantes em que somos apresentados a Joaquim (Rodrigo Santoro), Davi (Ângelo Paes Leme), Geraldo (Jair Oliveira) e PC (André Moraes), que formam a banda do título. Acompanhados do aspirante a cineasta Dico (Selton Mello), eles decidem viajar por conta própria a Nova York. Lá Joaquim conhece Glória (Cláudia Abreu), se apaixona, e lá Os Desafinados se instalam.

Essa exposição inicial é picada; Lima Jr. usa de elipse o tempo inteiro para nos apresentar os protagonistas e a rotina que eles estão deixando para trás ao optar pelos EUA. É possível ver essa opção pela elipse como uma manobra arrojada ou como uma manobra displicente. É displicente em cenas como a do Central Park - Santoro e Claudia Abreu começam a conversar, corta para o Selton Mello perdido, e depois o casal já está na cidade se despedindo. E é arrojada na cena do ensaio, que num corte seco já nos passa para a cena de gravação no estúdio.

Até esse momento (até o fim da aproximação de Glória e os Desafinados), não dá pra evitar a sensação de estranhamento: o estilo que Lima Jr. emprega é ultrapassado ou nós que nos habituamos com outro tipo de cinema? Por que essa coisa de sair cantando por todo lado como um Dick Van Dike ou um Zé Carioca parece tão posada? Discussão à parte, segue-se uma sequência de cenas que não causam tanto ruído: as internas no prédio de Glória, em que enfim se firma o tema principal do filme. A saudade.

Quando estão no inverno nova-iorquino, os brasileiros sentem falta de casa. Quando voltam ao Brasil, sentem falta do que deixaram incompleto por lá. São homens divididos em dois mundos - explicitamente o personagem de Santoro - como é dividida a própria Bossa Nova, soma de samba com jazz. Ator de método, Santoro se impõe, e os momentos de sofrimento de Joaquim são o ponto forte de Os Desafinados. São as imagens que ficam por mais tempo.

Daí em diante, novo desarranjo. Perde-se o foco e voltam as elipses a dançar sem liga, personagens zanzando com violões em punho, na chuva, em aeroportos. A história musical das saudades abre espaço para a história com "H" maiúsculo, os temas mudam, as subtramas sobem, as fusões visuais do passado e do presente se intensificam. Quando o jovem Goldfarb entra na boate no fim do filme, já se espera de tudo - mas ele tinha mesmo que sentar ao piano?

Nome propício, o de Os Desafinados. Um filme entre o anacrônico e o deslocado, com poucos momentos que podem ser considerados bom cinema a qualquer tempo.

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