O preconceito do brasileiro com o próprio cinema tem origem, em parte, nos extremos da produção nacional, feita, à primeira vista, de chanchada e hermetismo. Do Cinema Novo, engajado e cheio de referências, que surgiu para derrubar as comédias musicais da Cinédia e da Atlântida, a País do Desejo, que nasce como contraponto a neopornochanchada de filmes como De Pernas Pro Ar.
Pais do Desejo
Pais do Desejo
Para questionar valores, antigos e atuais, Paulo Caldas (Baile Perfumado) mistura religião, amor, morte e desejo em uma trama complicada: a relação entre a pianista Roberta (Maria Padilha), que perdeu o gosto pela música e pela vida na sua luta contra uma doença renal crônica, e o Padre José (Fábio Assunção), que luta por razão em meio às regras da igreja católica em uma pequena comunidade do interior de Pernambuco.
A ideia de Caldas, contudo, é maior que sua capacidade de execução. País do Desejo ora mostra seu empenho para criar "imagens fortes", ora revela um desenvolvimento preguiçoso, com diálogos artificiais e personalidades rasas. No espaço onde deveria desenvolver seus personagens, Caldas os coloca para andar. Há uma obsessão com o percurso. Personagens vão e vem pelos corredores, dirigem, chegam e partem dos lugares inúmeras vezes ao longo do filme.
As muitas tramas paralelas - a menina de 12 anos estuprada e condenada pela igreja, a mãe do Padre em estado vegetativo, a enfermeira japonesa fã de mangás, animes e do horóscopo do sangue, o irmão médico pervertido e sua esposa "curiosa"-, embora ricas e cheias de possibilidades, se limitam a circular o casal principal. Caldas tem tanto a questionar sobre os temas escolhidos - a igreja, o amor, o sexo - que esquece de responder as próprias perguntas, criando um filme tão sério quanto vazio - vide a cena onde a japonesa come hóstias com ketchup lendo mangás eróticos.
Enquanto o cinema "pão e circo" lota as salas e se prepara para sequências, o cinema "para pensar" de País do Desejo falha duplamente no seu esforço por significar alguma coisa: não atinge o público, nem se prova melhor que a chanchada. Assim, a boa produção nacional se perde em meio ao preconceito criado pelo clichê dos extremos e o que resta é confortável ignorância do "filme brasileiro não presta".
Ano: 2012
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Duração: 100 min
Direção: Paulo Caldas
Elenco: Fábio Assunção, Maria Padilha, Gabriel Braga Nunes