No cinema, roteiros apoiados nas relações de causa e conseqüência para costurar tramas paralelas não são novidade. Curioso que esse estilo tão delicado (só os muitos talentosos podem se valer dele) esteja reinando - mais do que deveria, aliás - na cabeça de roteiristas com poucos recursos.
Tal artifício virou moda, como o revival do balonê na última estação, graças ao sucesso do bem executado Amores Brutos (2000). Com o sucesso da parceria - recentemente desfeita - do roteirista Guillermo Arriaga e do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, esse tipo de história se tornou uma praga. Daquelas bem peçonhentas, que infestam a cinematografia do mundo todo (vejam bem, a globalização também tem lá seus malefícios...).
perda
O drama lituano Perda (Nereikalingi Zmones, 2008) acompanha a história assim, de personagens cujos destinos estão intrínseca, e inacreditavelmente, interligados.
Valda (Valda Bickute) sonha em reaver seu filho Paul (Gelmis Naujikas), que vive num orfanato, mas não tem dinheiro - e suspeita-se que ela sofra de uma grave doença mental. O pai da criança é Ben (Kostas Smoriginas), um bêbado caricato que já foi casado com Nora (Dalia Micheleviciute), que perdeu uma perna num grave acidente de carro, conduzido por Ben, e não pode ter filhos. Disposta a ganhar dinheiro, Valda viaja para a Irlanda em busca de um emprego. Lá, depois de um evento desesperado, passa a ser seguida por um padre modernoso (Andrius Mamontovas), que guarda um segredo terrível de infância.
O roteiro rocambolesco pelejou para alinhavar o drama de todos os personagens e mostrá-lo usando aquela coloração acinzentada e deprimente de tempos invernais no Leste Europeu. Pretensamente surpreendente, é um filme triste, trágico. Tanto pela história como pela forma pouco habilidosa como ela é narrada.