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Quelques jours en septembre | Crítica

Quelques jours en septembre - Festival do Rio 2006

09.10.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H20

Quelques jours en septembre
França/Portugal/Itália, 2004
Suspense/Comédia - 110 min

Direção: Santiago Amigorena
Roteiro: Santiago Amigorena

Elenco: Juliette Binoche, John Turturro, Nick Nolte, Sara Forestier, Mathieu Demy, Said Amadis, Tom Riley
Quelques jours en septembre (2006) é a estréia do roteirista Santiago Amigorena como diretor. O título se refere aos dias que antecederam os ataques terroristas aos Estados Unidos em 2001. Serve de pano de fundo para um melodrama familiar com pequenas doses de thriller de espionagem. Bem ao estilo dos romances escritos por John Le Carré. Interessante que, mesmo sendo dirigido por um argentino, toda a atmosfera existencialista francesa se faz presente.

Elliot (Nick Nolte), apesar de ser um espião da CIA, negocia com os dois lados. Ele sabe que alguma tragédia está para acontecer. Talvez essa seja a sua última chance de se redimir com seus filhos. Devido ao seu trabalho, nunca teve tempo para se dedicar à sua família. Ele entra em contato com Irene (Juliette Binoche), uma espiã francesa que também costuma negociar com os dois lados, para encontrar Orlando (Sara Forestier), sua filha.

A menina mora em uma fazenda com sua avó e nunca perdoou seu pai por tê-la abandonado na França para retornar aos Estados Unidos. Irene consegue convencê-la e a leva para encontrar Elliot em um hotel. David (Tom Riley), filho adotado de Elliot, também é convidado para o encontro. Mal sabe ele que está sendo seguido por William Pound (John Turturro), um assassino psicótico que foi enviado pela CIA para matar Elliot. Suas motivações no caso são profissionais e emocionais. Ele é um ex-aprendiz de Elliot, e considerava o agente como um pai.

Ao perceber a trama para eliminá-lo, Elliot desiste do encontro. O assassino busca, então, uma forma de descobrir onde está o agente. E não é o único. Um grupo de sauditas precisa falar com Elliot sobre os futuros acontecimentos. São investidores que pagam comissão por informações privilegiadas. A pedido de Elliot, Irene leva Orlando e David para Veneza. Lá todos irão encontrar seu destino.

O diretor, também responsável pelo roteiro, constrói sua narrativa basicamente na família disfuncional. Em Veneza ele desenvolve os personagens com extrema eficácia. Seus dilemas morais, problemas e desejos são o foco do filme. Orlando odeia os americanos. O motivo é óbvio. Ela os julga responsáveis pelo afastamento de seu pai. David é um bon vivant interessado nos prazeres da comida. Ele nem imagina que seu pai é um espião altamente competente e procurado. Irene completa a tríade. Ela também tem um passado misterioso.

Amigorena utiliza a viagem para Veneza para que todos resolvam as questões do passado. Acontece até uma certa disputa entre as duas mulheres sobre quem vai ficar com David. E essa dramaticidade com toques de humor são o ponto forte do longa. A discussão dos três comparando os norte-americanos a dinossauros é hilária e impactante. O cineasta aproveita a cena para ilustrar as táticas imperialistas do governo norte-americano e uma suposta superioridade por parte do seu povo.

Na ótima analise feita por Amigorena, nem o assassino psicótico William Pound escapa. Pound é um assassino em busca de sua verdadeira personalidade. Ao mesmo tempo em que não consegue abandonar sua profissão, ele está se tratando com um psicólogo. Suas terapia pelo telefone é hilária. Para completar sua psicopatia, ele comete seus assassinatos recitando Blake. Por sinal encontramos várias referências literárias no filme. Os personagens, além de serem fãs de poesia, ganharam nomes em homenagem a grandes escritores (T.S. Eliot, Ezra Pound, William Blake).

Todas essas nuances escritas por Amigorena são brilhantemente interpretadas pelo elenco. Até Nick Nolte, que só tem alguns minutos em cena, contribui com uma ótima participação. Mas é John Turturro quem mais se destaca e soma mais um personagem memorável para sua galeria.

A trama também serve para que Amigorena insira alguns comentários metafóricos sobre a política. Notamos isso principalmente em Irene. Ela constantemente tira os óculos e vê o mundo desfocado. Nessas cenas, o argentino demonstra que ninguém é o que realmente diz que é. Uma maneira de mostrar as ambivalências morais e ambigüidades pelas necessidades que a profissão de Irene, Elliot e Pound requer. O recurso também é utilizado para mostrar que por trás dos ataques de 11 de Setembro, podem haver outras intenções não divulgadas pela imprensa. Não só em relação aos terroristas, mas também pelos poderosos.

Em relação à espionagem, o argentino mostra qual foi o destino dos espiões após o término da Guerra Fria. Eles acharam no mundo corporativo das grandes empresas uma maneira de encontrar a sua sobrevivência. Também evidencia que dentro do mundo globalizado não existem mocinhos e bandidos. Tudo gira em torno da economia e dinheiro. E isso é uma característica de todos os lados. Norte-americanos, sauditas e europeus estão todos no mesmo barco. E Amigorena demonstra isso em sua última cena, uma tomada desfocada da linda cidade de Veneza. Os mais afoitos para saírem do cinema, podem perder uma cena que dura alguns minutos, mas é muito pertinente. O diretor demonstra que a beleza e a tragédia podem conviver em nosso planeta.

Nota do Crítico
Bom
Segredos de Estado
Quelques jours en septembre
Segredos de Estado
Quelques jours en septembre

Ano: 2004

País: França/Portugal/Itália

Classificação: LIVRE

Elenco: Juliette Binoche, Nick Nolte, John Turturro

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