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São Silvestre | Crítica

Documentário trata a tradicional corrida de rua paulistana como símbolo da luta por fazer da cidade um espaço de cidadania

26.12.2013, às 14H50.
Atualizada em 10.12.2016, ÀS 02H07

Embora tenha sido rodado em dezembro de 2011, antes e durante a mais tradicional corrida de rua do país, o documentário São Silvestre tem muito a ver com o ano de 2013, em que São Paulo assistiu à retomada dos espaços públicos pelos movimentos sociais. Ao filmar a São Silvestre no corpo a corpo, a diretora Lina Chamie (A Via Láctea) consegue registrar o que visualmente há de mais forte na prova, que é justamente a ocupação da cidade.

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Depois de realizar um curta sobre a corrida, Lina abriu mão dos depoimentos e do formato documental mais tradicional na hora de partir para o longa. São Silvestre acompanha sem diálogos a preparação e a prova em si, com uma câmera acoplada ao peito do ator Fernando Alves Pinto. Aqui, mais do que nos seus longas anteriores, Lina Chamie exercita sua formação de musicista; o que dá o tom é a trilha incidental, com composições clássicas de Gustav Mahler, Richard Wagner, Camille Saint-Saëns, Jean Sibelius e Alexander Scriabin.

A opção por um registro sensorial (e frequentemente vertiginoso por conta da câmera na mão) pautado pela música clássica cria um crescendo dramático que funciona como motor do filme. Inicialmente temos o conflito mais básico, do indivíduo disputando lugar com os carros, como se o corredor em treinamento reivindicasse à força um espaço seu, esforço latente no choque dos pés contra o asfalto (que a câmera privilegia nesse primeiro momento). Na passada e na respiração do corredor, um compasso quase musical que dá ao filme seu senso de urgência.

Depois vem a calmaria, o balé engarrafado de carros e pedestres na Avenida Paulista, que a música trata como caos controlado, uma harmonia improvável entre forças contrárias. É impossível assistir ao homem e à mulher parados no semáforo, cada um dirigindo seu carro, lado e lado, e não torcer para que eles troquem um olhar, torcer para que se reconheçam. A essa altura, São Silvestre já criou no espectador um senso de convivência nesse espaço tão impessoal e brutalizado que é o trânsito de São Paulo, e nada mais justo do que torcer para que as pessoas que atravessam a tela também percebam que a rua lhes pertence.

É como uma apoteose, portanto, que chega o momento da corrida. A opção por filmar um ator durante a prova pode parecer estranha no começo (Lina muda para o preto-e-branco para fazer a distinção), mas ela dá um importante senso de identificação com o espectador. Fernando Alves Pinto está ali representando todos nós, afinal. A São Silvestre do clímax do filme não é só uma concessão - um delírio de fim de ano em que, por milagre, as ruas param para o pedestre passar - mas sim a recompensa por uma batalha travada no dia a dia por todos os paulistanos.

São Silvestre | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo
São Silvestre
São Silvestre
São Silvestre
São Silvestre

Ano: 2013

País: Brasil

Classificação: 18 anos

Duração: 80 min

Direção: Lina Chamie

Roteiro: Lina Chamie

Elenco: Fernando Alves Pinto

Onde assistir:
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